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domingo, 13 de setembro de 2015

Miniconto - 01

Admirada estava a contemplar o poeta, que inspirado estava a escrever na beira da praia, era um pequeno detalhe na paisagem, mas ainda assim ocupava o centro da foto. A cena era bonita; o velho escritor, o pôr do Sol, a caneta, o caderno e a inspiração a correr em liberdade pelas linhas; eram elementos isolados mas extremamente interessantes quando juntos. Olhava aquele sorriso torto e murcho, construído devagar e distraidamente, a pele fina e envelhecida era como papiro, enrugada, marcada, amarela e frágil, os dedos longos e finos, envolviam com elegância a caneta gasta com seu nome escrito na lateral; as unhas eram grossas, e nos cantos dos olhos tinham tantas linhas, que parecia que todos os poemas criados um dia por ele estavam rascunhados nelas. Era poético até, mas era um horror! Aquela cena a incomodava, causava-lhe arrepios, a velhice, a solidão, o criar para ninguém. Aquele sorriso distraído nos lábios era patético, inspirador e desesperador. O que será que ele tanto escrevia? Um coração tão tranquilo e cheio de versos, ali por acaso, todos os dias em sua janela .... todos os dias contemplado ... todos os dias; tão lindo, e cada dia mais apaixonante. O que será que ele tanto escrevia? Era horrível. Era inspirador!

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