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quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Miniconto - 04 (Ciclo)

A beleza, escondida embaixo da feiura estava irreconhecível, calada, encolhida, apagada; e foi reconhecida em um mero acaso por um observador que passou e oportunamente a percebeu; e esse manteve certa distancia porque a feiura não permitia estranhos por perto, talvez fosse medo, raiva ou zelo. Assim que a reconheceu andou de um lado a outro atônito, sentiu um ódio crescente pela feiura e o desejo de salvar a beleza aflorou desenfreadamente em seu peito, e ganhou força; sentiu que dentro de si surgia um herói há muito esquecido, inventou até um nome para esse novo personagem em si que de tão concreto, parecia que já existia e apenas adormecera preguiçosamente por anos. Bateu três vezes forte no peito e cuspiu longe, arrumou a calça na cintura e foi lá tirar satisfações com a feiura, que falou, exclamou e até implorou tamanho era o seu desespero em ver a beleza solta, mas não teve jeito não, o observador exigiu, também exclamou e até usou de força bruta para vê-la livre, e no fim conseguiu o que queria; saíram de mãos dadas dali deixando para trás uma pobre feiura choramingando algo que a distancia não mais os permitia ouvir. Longe dali a beleza agora um pouco mais confiante andava ao lado de seu salvador, e diante de elogios e cuidados ela foi se modificando, agora falava mais, arrumara a postura e até recuperara o seu antigo brilho; e brilhava lindamente para quem quisesse ver; e por onde passava era notada, e quanto mais o era, menos enxergava o seu herói instantâneo. A beleza se corrompeu rápido pela vaidade, soberba, luxuria, narcisismo e quase não mais se parecia com ela mesma de tão modificada que estava; e foi se alterando, se sujando e tornando-se feia, afastando todos e até mesmo o seu próprio herói. A nova feiura andou sozinha e sem rumo por algumas horas,dias, meses; e ninguém teve coragem de chegar perto de sua nova face, até que um dia chegou onde habitava antes com a feiura e descobriu que longe dela a antiga feiura se tornara bela, e sentindo um medo incontrolável de que essa novamente ficasse como seu novo eu, a escondeu embaixo de si; e passou a protege-la até que um dia por um mero acaso, a beleza foi reconhecida por um observador que passou e oportunamente a percebeu.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Prosa - 02 (Me perco em você)

Eu sempre me esqueço de tudo quando estou com você.
Acho que é culpa dos seus lindos olhos negros que me lembram uma noite na praia, mas sabe... talvez nem seja isso mesmo; a maioria das vezes eu culpo as suas mãos que sempre cobrem as minhas de maneira protetora e adorável. Fico pensando que se desse o meu coração pra você, ele caberia direitinho dentro delas e ainda sobraria espaço pra preencher com meus sentimentos.
Mas, e se não for isso? 
E se for sua boca, que é de um vermelho tão intenso que faz o meu sangue ferver? 
Depois que te conheci, eu gosto muito mais de morangos. 
Poderia ser também a forma como você pensa, que é original e tão inspiradora que me faz escrever poesias, musicas, poemas e às vezes até discutir velhos dilemas... mas também não sei se é isso, é que sempre me esqueço de tudo quando estou com você.
Acho que pode ser mesmo culpa dos seus lindos olhos negros...
Ou será que é porque quando estou contigo nada mais me importa?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Poema - 09


Hoje as palavras me acordaram com urgência, bagunçaram minha cabeça, deram um nó na minha garganta,
brincaram em versos e verbos e me sacudiram exigentes. 
Queriam sair, serem livres e expressadas; significativas e encantadoras.
Exigiram de mim.
Me sufocaram.
Me cegaram.
                                                                                    Saíram. 
                                                                                    Sumiram, mas não antes de existirem.
                                                                                    Um verbo.
                                                                                    Um verso.
                                                                                    Um constrangedor sentimento.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Verso - 45

Depois que me perdi em seu abraço, os lugares mais confortáveis do mundo
ficaram estranhamente incômodos.

domingo, 13 de dezembro de 2015

Verso - 44

Às vezes deveríamos ser menos adultos, e sentir o amor com a irresponsabilidade de uma criança. 
Com zelo, dedicação e inocência.

domingo, 29 de novembro de 2015

Verso - 43

Sempre tive uma certeza irrefutável de que minha cor preferida era preto, mas desde que provei de seu olhar oscilo entre o verde e o castanho claro.

domingo, 1 de novembro de 2015

Miniconto - 03

Corria de um lado à outro atônito, lacrava caixas, ensacava louças, enrolava copos e se afligia. O caminhão da mudança estava estacionado na frente de seu portão, e os carregadores transitavam ininterruptamente; eram formigas roboticamente empenhadas e obedientes, quando não sabiam o que fazer paravam esperando novas ordens que cumpriam sem hesitar. Ela os acompanhava sem descanso, não demonstrava entusiasmo, prazer, tristeza ou arrependimento, só dava ordens calmamente enquanto fiscalizava a mudança de seus pertences. Ele acompanhava tudo como um olhar indecifrável, e limitava-se em correr de um lado à outro, lacrar caixas, ensacar louças, enrolar copos e se afligir. A casa antes cheia de risos, lembranças, beijos e abraços estava se dividindo; metade ficava com ele e outra ia com ela, observava o passado sendo encaixotado e fechado e o presente resumido em poucos e simples objetos, mas não agia. No fim tudo fora levado, os carregadores transportavam tudo de bom e ruim, e colocaram ela no veículo como último item a ser levado da casa e partiram. Do portão ele não pôde acenar, talvez porque sabia que ninguém acenaria de volta, apenas deixou-se ficar ali parado pensando em nada, olhando ela, o caminhão e sua antiga vida sumirem no horizonte, não sabia exatamente o que sentir por isso entrou, passeou por todos os cômodos ignorando o estranho vazio, faltava moveis, vozes, companhia; respirou fundo e foi até a geladeira e abriu uma cerveja, foi até a varanda e deitou na rede. Enquanto bebericava e balançava se deu conta de que finalmente estava só, e o peso caiu-lhe de forma leve, entendeu que não lhe restara mais nada além de paz. Finalmente sorriu!

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Mural - 03

Ser leitor, é sonhar no sonho do escritor.

domingo, 18 de outubro de 2015

Verso - 42

O que difere o crível do incrível, é a intensidade com a qual você se apega ao "in".

domingo, 11 de outubro de 2015

Sobre: Branca de Neve

Tic! Corria pela floresta, e sabia que se não chegasse antes do Sol se por iria morrer. Tac! Não queria morrer, então tentava manter a calma para não se perder na floresta. Tic! Ainda podia sentir o coração batendo forte, e quase riu disso; era irônico sentir essas batidas tão fortes. Tac! Quase tropeçara. Sua mente foi invadida por imagens de sua luta alguns segundos atrás; um caçador contra uma donzela, fora um ataque repentino, mas era só o que lembrava do ocorrido. Tic! Sua mente estava confusa. Tac! Bloqueada com o choque. Tic! Agora corria contra o tempo, precisava chegar no castelo até o Sol se por. Precisava se acalmar, mas o coração pesava a cada passo; sentia-o pulsar e seu desespero só aumentava. Tac! Doía. Tic! Confundia. Tac! Era uma bomba relógio. Tic! O Sol começara a sua dança, mas por fim, já podia ver o jardim do castelo. Tac! Agora corria mais rápido por sua vida. Tic! Mais rápido. Tac! O coração agora estava fraquejando. Tic! Limpou a boca com as costas da mão e sentiu o gosto de sangue na boca, ferro amargo, viscoso, intenso. Tac! Entrara no jardim. Tic! O coração. Tac! O por do Sol. Tic! De onde estava, podia ver a mesa do jantar, olhou para o lado e viu o Sol cada vez mais baixo. Um pouco mais e se salvaria. O coração batia agora com menos entusiasmo. Tac! Muito fraco. Tic! Quase parando. Tac! Caíra na entrada exalando a exaustão, o suor lhe lavava o rosto, e entrara-lhe nos olhos. Ardia. Cegava. Doía. Tic! Seu corpo era sal e medo, e de repente, lembrou-se da floresta. Um caçador contra uma donzela. Era covarde! Tac! Se recompôs e sorrateiramente atravessou a cozinha, a sala e em pouco tempo subia as escadas; as mãos sujas de sangue e tremulas tocaram a maçaneta sorrateiramente. Tic! O coração batia imperceptível. Tac! Abriu a porta com muita cautela, e esgueirou-se até a cabeceira, tirou de dentro do cinto uma faca e cordas, e depois de amarrar sua vítima esperou com paciência quase demente que acordasse; quando isso aconteceu assistiu com prazer infantil o terror se espalhar e contorcer sua face. Tic! Tapou-lhe a boca com o coração que vinha trazendo na mão esquerda. Tac! Abriu um buraco em seu peito, e retirou de lá o coração, em seguida olhou sua vítima com compaixão e esperou até que sua respiração findasse. Tic! O sol estava quase sumindo. Sentou-se na frente do espelho e ajeitou o cabelo comprido, contemplou sua pele extremamente pálida e seus olhos azuis, o sangue lhe tingia a boca como a uma pintura e isso a deixava muito atraente; se contemplou por um momento e ajeitou as roupas largas do caçador, sorriu para si mesma. Tac! Conseguira. Matara a rainha antes do por do Sol. Tic! De olhos fechados saboreou o coração da megera antes que esse parasse de bater. Tac! Enquanto lambia os dedos lembrou-se da maldição, e sabia o que tinha que fazer; precisava de outro coração de mulher. Tic! Lembrou-se da família do caçador, que agora estava morto na floresta. Não há perdão para covardes. Tac! Precisava chegar lá antes do Sol nascer.  Tic! Só mais seis corações e estaria liberta. Tac! Não queria morrer. Tic! Tac!

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Verso - 41



O amor é um cacoete, que não tenho vergonha de ter!

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Sem titulo

Não Te vejo a face, não Te beijo as mãos e não te lavo os pés, mas Te creio, porque me ama; mesmo vendo minha verdadeira face, e me beija as mãos e humildemente me lava os pés. 

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Miniconto - 02 (Make memories)

E construía a ponte cuidadosamente com memórias e saudades, empilhava cada pequeno pedaço de sentimento, um após o outro com o máximo do cuidado, e quanto mais a ponte avançava mais ele se esquecia dela, e quanto mais se esquecia, mais insistia em sorrir. Sorria com todos os dentes, com os olhos e com o coração; e era um sorriso ingênuo e completo .... e satisfeito. Avançava sem medo e sem remorso, revigorado a cada lembrança abandonada, pois sabia que para cada uma que se desprendia, construiria duas quando acabasse a ponte e finalmente a encontrasse. 

sábado, 26 de setembro de 2015

Verso - 40

Deixe que chova,
Que molhe,
Que escorra,
Deixe que o tempo morra;
Deixe que lave,
Que leve,
Que o vento se esfregue.
Deixe que caia,
Deixe que embace,
Que seja,
Que faça,
E desfaça aquilo tudo que impede o seu coração de transbordar.

domingo, 20 de setembro de 2015

Mural - 02



Quando eu voltar não mais terei a mesma face, porque sou mesmo assim, gosto de trocar minhas faces, e certamente tenho de todos os tipos para todos os dias, mas de todas que possuo, a que mais me agrada certamente é a sua.

domingo, 13 de setembro de 2015

Miniconto - 01

Admirada estava a contemplar o poeta, que inspirado estava a escrever na beira da praia, era um pequeno detalhe na paisagem, mas ainda assim ocupava o centro da foto. A cena era bonita; o velho escritor, o pôr do Sol, a caneta, o caderno e a inspiração a correr em liberdade pelas linhas; eram elementos isolados mas extremamente interessantes quando juntos. Olhava aquele sorriso torto e murcho, construído devagar e distraidamente, a pele fina e envelhecida era como papiro, enrugada, marcada, amarela e frágil, os dedos longos e finos, envolviam com elegância a caneta gasta com seu nome escrito na lateral; as unhas eram grossas, e nos cantos dos olhos tinham tantas linhas, que parecia que todos os poemas criados um dia por ele estavam rascunhados nelas. Era poético até, mas era um horror! Aquela cena a incomodava, causava-lhe arrepios, a velhice, a solidão, o criar para ninguém. Aquele sorriso distraído nos lábios era patético, inspirador e desesperador. O que será que ele tanto escrevia? Um coração tão tranquilo e cheio de versos, ali por acaso, todos os dias em sua janela .... todos os dias contemplado ... todos os dias; tão lindo, e cada dia mais apaixonante. O que será que ele tanto escrevia? Era horrível. Era inspirador!

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Mural - 01

E quando tudo em mim silencia; eu me faço majestade, para ouvir a sinfonia de pardais.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Overdose

Assim passava os dias. Espreguiçava-se feliz respirando o amor, e ao se levantar, enchia sua habitual tigela com doces porções e servia-se em sua caneca preferida com amor; entrava no carro contente e logo preenchia a estrada com as famosas trilhas românticas, e chegando ao seu destino, certificava-se de todo o amor aprisionado saísse ao abrir a porta somente pelo prazer de preenche-lo novamente, e seguia assim até a hora de dormir; transpirava, comia, bebia sorria e divulgava o amor. Quando finalmente conheceu alguém com quem pudesse compartilhar esse sentimento, juntou-se a ela sem pensar duas vezes; e sendo assim passava seus dias .... Espreguiçava-se infeliz respirando o tedio, e ao se levantar, enchia sua habitual tigela com gordas porções de desespero ....

domingo, 23 de agosto de 2015

Verso - 39

Deixe-me chorar mais um pouquinho, enquanto enrosco em mim mesmo, afagando a saudade e desfalecendo devagarzinho.

domingo, 16 de agosto de 2015

Verso - 38

O amor é esse verso mudo que paira no ar, solidário; quando nossos olhares se encontram.

domingo, 9 de agosto de 2015

Verso - 37

O amor, é o espasmo contante do coração.

Adeus

E finalmente percebeu, que daria qualquer coisa para sentir aquele amor que antes emanava dela, pensou que talvez assim, a vida e seus versos fariam mais sentido; então tomou-a em seus braços, e como poeta sonhador desperdiçou seus últimos sentimentos em versos tolos, enquanto sem poder impedir, assistia os pedaços de seu coração caírem até deixar seu peito vazio; nesse momento, sentiu que seus sonhos e seus beijos salgados morriam como aquele corpo débil. 

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Lágrimas

Andava o poeta cabisbaixo por não conseguir se expressar, vagava em suas metódicas andanças com estranho tremor nos olhos, um doloroso nó na garganta e um forçado sorriso nos lábios. Ia e vinha vagaroso, mal conseguindo se equilibrar nas bordas de suas emoções; e em vão tentava sobreviver às suas insecáveis lágrimas; que indomáveis irrompiam, hora calmas e hora à afoga-lo em seu insensato coração.

domingo, 2 de agosto de 2015

Dessabor

A lágrima saiu, marcou o rosto inocente, confundiu a mente já perturbada, salgou a boca, deslizou pelo queixo e caiu na rosa, que esmagada embaixo do pé, desistiu finalmente de lutar pela sobrevivência, ao ser regada por esse último dessabor. 

terça-feira, 14 de julho de 2015

Ausência

A saudade se aproxima e toma assento à meu lado, e me seduz com espantosa intimidade. A saudade me envolve, tornando-me prisioneira de seu forte abraço; afaga-me os cabelos, e me tranquiliza enquanto resmunga uma velha cantiga de amor.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

Verso - 36

O amor que sinto por você, é a camisa de força que me impede de viver.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Nanoconto - 15

Os dedos percorreram a esmo as cordas do violão, procurando em cada nota o som perfeito, andaram obstinadamente, como meus lábios passeando em seu corpo, preenchendo com beijos cada pedaço vazio, que apaixonadamente finjo ser meu.

domingo, 28 de junho de 2015

Verso - 35

Quero uma casa pequena que caiba tudo,
Amigos, amores, sentimentos;
Sofrimentos.
Quero uma casa,
Bem pequena; para comportar a imensidão,
Bem simples,
Para chamar de coração.

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Verso - 34

Como pode caber tanta coisa grande, dentro de um pequeno coração?
Será que é porque ele infla com o sopro da nossa imaginação?
Ou será que é porque se esvazia rápido para comportar novas inconstantes emoções?

terça-feira, 23 de junho de 2015

Nanoconto - 14

Completamente faminta, servia-se do silencio que a solidão lhe oferecia.

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Poema - 08

Há tantas semelhanças em nossas diferenças,
Que chego a acreditar que nascemos um para o outro;
É como se há muito tempo,
Você fosse idealizado para aplacar minhas tristezas,
Derrotar meus sofrimentos,
E eternizar o amor em meu coração.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Nanoconto - 13

Depois de longo suspiro morreu, sem saber que seus versos juntaram histórias,
salvaram amores, reconstituíram corações e o tornou eterno.

terça-feira, 9 de junho de 2015

Verso - 33

E eram naturalmente simples;
Versos,cheios de arrependimentos.
Fáceis de entendimento,
Tortos de
desenvoltura,
E incompreendidos, desde a criação.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Nanoconto - 12

Quando finalmente enxergou a cruel realidade da vida, agarrou-se a sua essência de poeta, com um medo infantil de que lhe tirassem sua melhor porção.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Poema - 07

O amor é incomodo,
É uma verdade insana e ilícita,
É corrompível e mutável,
É fosco,
É contagioso
;
Mas também é belo,
Tão inocente quanto contraditório,
É invejável,
Natural e límpido,
E tão avassalador quanto necessário.
Saudemos a aventura que é o amor.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Verso - 32

O amor que sinto por você
me rouba tudo;
O ar,
As doces palavras,
Os sonhos,
E ás vezes,
Até as incansáveis reticencias ...

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Fim (por Avner Posner)

Hoje liberei para o jornal local Aquela nota sobre seu falecimento. Não quis alarde, mas quis deixar registrado, Em letras miúdas, no rodapé da página ímpar. Duas ou três folhas depois da capa. Em preto e branco mesmo. Em uma fonte que nem mesmo sei o nome Botei até meus óculos pra ler. Os escuros, pois mantenho o luto. E lá dizia... Meu amor hoje se foi. Não foi embora, pois o que vai as vezes volta. Não foi dormir, porque seu sono sempre foi leve. Não foi levado, afinal nunca tomaram o que era nosso. Não foi esquecido, já que nos somos pra sempre. Nunca foi, porque ainda é e talvez pra sempre será. Infelizmente, meu amor, felizmente meu amor Foi só pra ti, nunca foi de outro. Declaro aqui, e agora, que hoje eu enterro. Numa cova funda no meu peito. Com zelo, esmero e muitas saudades. Meu coração que leva seu nome. Te velo a cada suspiro. Te invoco a cada silêncio. Te enxergo, perfeitamente, na penumbra. E te sinto me fitando cada vez que eu sorrio. Hoje com a mão no peito fecho o caixão. Ora protegido, ora resguardado, ora escondido. Mas pra sempre seu. Nesta nota declaro a morte do que há em mim. Antes tarde do que nunca. Te amo, na presença, na ausência. No passado e no presente. E até mesmo quando eu minto dizendo ser o fim. Fim.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Verso - 31

Nas ondas do seu silencio,
Embarco,
Procurando sem esperanças
pela última nota,
Que irá me preencher do som e nostalgia.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Viva (Sequestro)

Entrar no quarto era como mergulhar no mais intenso breu; o único som que preenchia o ambiente era o silencio ensurdecedor, o suor era uma essência constante e a indiferença se fazia tão presente que já era considerada parceira de cativeiro. Andava de um móvel á outro sem tropeçar em absolutamente nada, fizera tantas vezes o caminho entre a porta e ela, e passava tanto tempo ali dentro que já havia decorado o lugar que cada objeto ocupava; ás vezes se permitia sair para comer, beber ou ir ao banheiro, e ás vezes esquecia-se completamente dessas limitações humanas e dedicava sua atenção inteiramente á ela. Tentou por vários dias conversar, agradar ou envolve-la, mas nada do que fazia era o suficiente para conseguir sua atenção; contra o silencio esmagador cantava, quando o desanimo reinava ele a presenteava e quando se sentia extremamente bondoso dava-lhe noticias do mundo; mas ela permanecia imóvel na cama evitando comer, beber ou respirar. Com o passar dos dias a pele dela deixou de ser macia, o cabelo agora sem cachos perdeu a cor, os olhos o brilho, os lábios a espessura que tanto o atraia e seu corpo as curvas que o impeliu a cometer esse sequestro. No terceiro mês, foi se compadecendo dela e a soltando aos poucos, tirou as correntes que lhe prendiam os braços agora finos demais, depois as que prendiam os calcanhares machucados, parou de lhe cortar as unhas que costumavam afundar em sua carne e por fim tirou-lhe a mordaça. Aos poucos ela foi se acostumando ao lugar e a sua presença, andava de um móvel a outro sem tropeçar em absolutamente nada, voltou a comer, beber, respirar e a falar; sua pele recuperou a maciez, o cabelo enrolado agora brilhava e o corpo novamente com curvas pertencia somente a ele nas noites de solidão. Passava os dias deitada em seu colo falando sobre si e seus sonhos que repentinamente passou a envolvê-lo; cantava quando o silencio era esmagador, presenteava quando o desanimo reinava e dava-lhe noticias do mundo quando se sentia extremamente bondosa.


quinta-feira, 19 de março de 2015

Liberdade (Semi-voo)

Certa vez, um homem dirigiu-se para a beira de um abismo, e cansado das neuras cotidianas despe-se e deixa-se cair sem medo nos braços do escuro, sem se importar com detalhes fúteis como: Onde iria parar! Ansiava a liberdade indecorosamente e por essa razão, quando sentiu o vento bater em seu rosto e envolver delicadamente seu corpo nu, fechou os olhos e saboreou cada pedaço amargo desse novo sentimento. Assim, deixou-se ficar por um tempo curtindo aquele salto que aparentava ser infinito, somente despertando desse estado de letargia quando seu corpo atinge violentamente o solo. Uma dor estonteante o invadiu quando os ossos de suas pernas, braços e tronco se quebraram; abre os olhos demoradamente sem poder pensar em nada, sem sentir medo e sem ver a vida passar diante de seus lindos olhos verdes; segundos depois se da conta de que ira morrer e isso o entristece profundamente; desejava poder aproveitar mais a sensação de liberdade que experimentara durante a queda, e embora a dor em seu corpo seja dilacerante, ainda assim a leveza do “quase voo” persiste em povoar a sua mente. De repente começa a rir desenfreadamente, estranhando não ver o peito subindo e descendo durante a respiração que entrecorta, o sorriso se formar nos cantos da boca e se alargar e a barriga sacudindo a cada espasmo do corpo. Adorava esse processo.  De qualquer forma, não conseguia conter essa vontade insana de rir, então continuou nessa tentativa dolorosa de felicidade gargalhando tão alto e tão forte quanto seu corpo quebrado permitia; parando somente quando o excesso de sangue o fez engasgar. Olhou para o alto a fim de enxergar o Céu, mas nada viu além da insistente escuridão, passou a língua nos lábios sentindo o gosto do sangue e da amargura que lhe adoçavam a boca e curtiu mais um pouco aquela sensação de paz. Momentos antes de morrer vê uma pena de sua própria asa planar e pousar em um dos cachos de seu comprido cabelo loiro dourado; tenta abri-las com o que resta de suas forças, mas só consegue balançar as pontas, e então falece, se perguntando por que nunca as usou. 

terça-feira, 17 de março de 2015

Amor (Someone for everyone)

A prostituta não tem valor significativo; desfila de um lado á outro na rua vendendo aquilo que possui de melhor, como um camelô desesperado ela se anuncia com afinco e veemência, e            quando sente que nada mais tem a oferecer simplesmente vende o corpo. Em geral a prostituta não tem alma; sacrifica seus amores, engole o choro obedientemente e mantem a boca sempre cheia e fechada; se for preciso ela força o sorriso e abdica do prazer pessoal. Jamais perde tempo porque tempo é dinheiro. Ás vezes é agredida por um ou cem, mas não há como saber se dói ou magoa porque ela não é como nós, feita de sentimentos, carne ou osso, não tem vontade própria, gosto ou opinião social. A prostituta não adoece, não vai ao banheiro, não sente ciúmes e também não sofre por desilusão amorosa; como bailarina em caixa de musica ela vive de ocasião, dançando silenciosamente quando lhe permitem e só se expõe na mídia dentro de um singelo caixão. A prostituta da prazer a quem pedir sem pensar em dizer não, mas tem as melhores roupas, a melhor tecnologia, frequenta as melhores festas e contempla os melhores céus; com olhos castanhos, verdes ou roxo; ela enxerga o mundo como uma enorme cama, então se deita em qualquer calçada, se espreguiça em qualquer bar e descansa eternamente em qualquer esquina. A prostituta não pertence a ninguém, ela é simplesmente um alguém para todos.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Nanoconto - 11

Desfrutavam cada segundo daquele longo beijo; olhos fechados, bocas abertas e línguas inquietas trabalhando juntos para descobrir que o amor, tem o mesmo gosto da amizade.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Poema - 06

É proibido olhar distante,
Beijo roubado,
E lábios selados,
É proibido mãos entrelaçadas
E namorar escondido.
É proibido juras
E coração iludido,
É proibido picnic romântico,
Festas surpresas
E troca de calor;
Em terra de tolos,
É proibido o amor.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Microconto - 15

As palavras emudeceram, e as reticencias pairaram soltas no ar percorrendo o aposento; apareceram uma a uma preenchendo cada canto, foram se multiplicando e pulsando como coração partido, que num surto de amor se desespera, e se enche calado até transbordar.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Verso - 30

Era um desses poemas;
Simples,
Com quatro linhas,
Que expunham minha alma.

sábado, 21 de fevereiro de 2015

Microconto - 14

De esquina em esquina, a prostituta transita procurando a próxima vitima. Motivada ela agarra e o ilude com seus abraços, mata-o com seus beijos, e reconstrói seu coração partido com gemidos quase inaudíveis.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Verso - 29


A suavidade do pouso da águia, esta nos olhos de seu espectador.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Microconto - 13

Preguiçosamente deixou-se deitar; e virando a cabeça devagar a admirou com um sorriso satisfeito nos lábios, frenético, puxou-a para si encaixando-a em seu abraço desajeitado; suspirou longamente quase engasgando com seu imenso amor, e antes de solta-la definitivamente, balbuciou um quase inaudível "Eu te amo", que ecoou pelo quarto solitariamente, mesmo depois de ela te-lo abandonado.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Microconto - 12

Atras de si a porta fecha violentamente, e assim que sua ida se torna concreta, o silencio invade sem escrúpulos a casa já vazia; então as palavras, as lembranças, as promessas, as noites de amor, as loucuras e as desventuras caem no esquecimento; enquanto os pedaços do coração partido se espalham brincando distraidamente com o vento da ultima janela, prestes a ser fechada para sempre.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Verso - 28


A complexidade do sentimento, resume a simplicidade do ser,

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

frase - 03

O amor não é cego;
cego é quem não sabe amar.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Poema - 05 (Distanciar)


Um dia verei a alegria transbordar em seu ser, e seu corpo dançar iluminado pela eterna luz do luar; nesse dia, em volta de ti as cores serão mais forte e as notas mais melodiosas, e isso será tão natural quanto meu louco amor. Um dia verei seus delicados pés pisarem nas nuvens e te levarem a cada passo mais alto, mais rápido e mais inconsequente; e sem medo de se perder ou cair se deixará levar pelo vento, pelo tempo, pelas águas da chuva e pelos sopros da sorte; e de longe poderei te ver cavalgar no vento, brincar nas horas e esnobar os anos; verei você rir dos desesperos da vida, se espantar com a natureza das coisas e planejar seu próximo ato insano e sem sentido. Um dia verei você não me entender, desistir da doce realidade e acordar me olhando como se eu já não fosse mais nada.

(Baseado nos textos de Manuela Muni).

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Verso - 27

O leitor é tão insano quanto seu escritor preferido.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Nanoconto - 10

Desolado, andava na chuva contando raios, ouvindo o vento, e aproveitando as caricias que a brisa se dispunha a doar.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A falência da poesia (por Ygor Pierre Piemonte Ditão)

A falência da poesia: 

O meu poema faliu e decretou-se insolvente.
Não tem créditos, nem liberdade de                  
                                        [imprensa. 
O meu verso é devedor e não tem espaço no mercado
É pobre, porque sua riqueza é democrática de verdade.

Minha poesia não vende livros, folhas e nem seguidores...
É solitária – como eu – por sonhar mundos melhores.

A minha poesia não rende por parecer-se Petrobrás
E sem assistência de sua miséria
Chora por escrever sobre liberdade.

A prosa, então, coitadinha,
Nem sabe sua identidade – semelhante a milhões de brasileiros.

Já não sei a cor da minha bandeira, do meu povo, do meu dinheiro e do pão!

Não tenho dólar pra divulgar poesias meritocráticas,
Nem euros para purgar a aristocracia,
Nem Libra para comprar uma oligarquia...

A falência do verso transcende a falência do coexistir.

Um dia eu fui ingênuo em defender,
Ora o comunismo, ora o capitalismo, ora em nada ter.

Um dia o meu verso falou de coisas que já não existem mais...
Mas hoje não defende nada!
Não há sistema político, econômico ou religioso que salve o homem de si.
A falência da poesia acompanhou a falência da humanidade.