RSS
Facebook
Twitter

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Miniconto - 06 (Vicio)

Sou escritora viciada; daquelas compulsivas que não existem sem um lápis e um papel na mão,
portanto, minha vida como já é de se adivinhar... é escrever.
Uma vez tentei parar, pensei que pudesse me descontaminar dessa mania de sonhar e fazer sonhar, 
mas assim que larguei o lápis as palavras caíram em meu coração lentamente, uma a uma, como folhas no Outono, e se juntaram umas em cima das outras numa confusão consciente de verbos... encheram até transbordar e se espalharam por meu corpo, e um a um membros e sentidos foram dominados e eu virei um fantoche.
Tentei lutar, mas... O que é a minha vontade diante de um lindo verbo?
Quase não havia mais nada de mim quando minha boca abriu pela primeira vez, deixando escapar a palavra "amor", que foi seguida pelo "viver" e do "libertar"; fechei-a num susto e tentei com todas as forças mante-la assim, mas o "escrever" se jogava tão forte contra meus lábios que de um impulso saiu, ricocheteou nas paredes e voltou para a minha boca se alojando em meu coração.
Humpf!
O que eu fazer diante de um lindo verbo senão obedece-lo?
Sigo viciada!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Miniconto - 05 (Oscilações)

Oscilações

Há dias em que quero mudar, tenho ganas de rasgar a pele e saber que por baixo há uma outra identidade, uma pele branca, um atleta, uma mulher rica, um peão de rodeio ou até mesmo uma criança sem amarrações ou compromissos. Tem dia em que a pele é um hábito incomodo, apertado, uma roupa social pra um evento de rock, e tenho ganas de rasga-la e ver que por baixo há uma outra identidade; um aventureiro, uma pastora de ovelhas, um critico literário, um judeu, uma dona de casa
entediada, ou quem sabe uma puta indomável. São tantas as personalidades querendo se concretizar que ás vezes me falta a sanidade. Ahhhh.... O que é a sanidade em mim senão esse amontoado de regras e promessas pessoais que organizei intimamente pra continuar andando?
O que é a sanidade em mim?
As vezes só me deixo escorregar pela parede até sentir a firmeza do chão, deito encolhida de olhos fechados e ouvidos tapados tentando desesperadamente  fugir de mim; então escuto um disparo seguido por meu nome que soa tão melodioso e sedutor quanto um solo de guitarra, e me levanto lentamente á procura de um espelho, e assim que o encontro encaro firmemente os doces olhos castanhos escuros que me observam, reparo em cada detalhe perfeito; angulo, formato arredondado, pintas discretas, lábios carnudos,cílios delicados e sem perceber chego cada vez mais perto do espelho atraída pelas milhões de possibilidades que reconheço... e num segundo volto à mim como se nunca tivesse saído. Visto cuidadosamente minha pele negra, ajeito o cabelo black, lavo o rosto passando a ponta dos dedos nele para sentir a textura macia e sorrio para mim mesma com encanto, esperando pacientemente que eu aceite as boas vindas.
Me reconheço; e me perdoo porque sei que ás vezes sou só uma estranha, fingindo ser eu mesma.