Corria de um lado à outro
atônito, lacrava caixas, ensacava louças, enrolava copos e se afligia. O
caminhão da mudança estava estacionado na frente de seu portão, e os
carregadores transitavam ininterruptamente; eram formigas roboticamente
empenhadas e obedientes, quando não sabiam o que fazer paravam esperando novas
ordens que cumpriam sem hesitar. Ela os acompanhava sem descanso, não
demonstrava entusiasmo, prazer, tristeza ou arrependimento, só dava ordens
calmamente enquanto fiscalizava a mudança de seus pertences. Ele acompanhava
tudo como um olhar indecifrável, e limitava-se em correr de um lado à outro,
lacrar caixas, ensacar louças, enrolar copos e se afligir. A casa antes cheia
de risos, lembranças, beijos e abraços estava se dividindo; metade ficava com
ele e outra ia com ela, observava o passado sendo encaixotado e fechado e o
presente resumido em poucos e simples objetos, mas não agia. No fim tudo fora
levado, os carregadores transportavam tudo de bom e ruim, e colocaram ela no
veículo como último item a ser levado da casa e partiram. Do portão ele não pôde
acenar, talvez porque sabia que ninguém acenaria de volta, apenas deixou-se
ficar ali parado pensando em nada, olhando ela, o caminhão e sua antiga vida
sumirem no horizonte, não sabia exatamente o que sentir por isso entrou,
passeou por todos os cômodos ignorando o estranho vazio, faltava moveis, vozes,
companhia; respirou fundo e foi até a geladeira e abriu uma cerveja, foi até a
varanda e deitou na rede. Enquanto bebericava e balançava se deu conta de que
finalmente estava só, e o peso caiu-lhe de forma leve, entendeu que não lhe
restara mais nada além de paz. Finalmente sorriu!
domingo, 1 de novembro de 2015
Miniconto - 03
Postado por Tempus em domingo, novembro 01, 2015 com Sem comentários
Categories: Minicontos
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