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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A carta

A carta foi planejada com esmero, e cada palavra escrita fazia parte de um conjunto de sentimentos expostos, gravados em folhas brancas num ato insensato de amor; foi revisada, passada a limpo, relida, lacrada e beijada carinhosamente pelo remetente. Nos primeiros raios da manhã atravessou a cidade decidida, foi selada, paga e enviada com ansiedade e insegurança. Antes da metade do dia a carta foi recebida com surpresa. A cautela se fez presente no rompimento de seu lacre; e a curiosidade também; uma vez aberta, espalhou pela casa suas promessas, dizeres e essência, causando mais comoção do que o pretendido. Suas folhas marcadas por dobras foram amassadas por mãos tremulas, borradas e manchadas por lagrimas de alegria, beijadas num súbito ataque de amor renascido e sufocadas no peito em chamas e de respiração urgente do destinatário. Acompanhava cada batida desritmada do coração ao qual era pressionada, e quase fora rompida com a vibração de 200bpm. A carta foi mirada uma ultima vez, invertida enquanto a mão que a segurava secava os olhos, recolocada no envelope e guardada embaixo do travesseiro. Não presenciou o reencontro entre remetente e destinatário, e tampouco suas juras de amor incontroláveis; mas durante a madrugada ficou presa entre travesseiro, lençol e colchão quando as amantes finalmente consumaram seus sentimentos; em dado momento fora lançada inconscientemente ao chão, então deixou-se atingir o solo sem dar-se conta de que o amor somente fora possível devido a sua existência

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