A carta foi planejada com esmero,
e cada palavra escrita fazia parte de um conjunto de
sentimentos expostos, gravados em folhas brancas num ato insensato de
amor; foi revisada, passada a limpo, relida, lacrada e beijada carinhosamente
pelo remetente. Nos primeiros raios da manhã atravessou a cidade decidida, foi
selada, paga e enviada com ansiedade e insegurança. Antes da metade do dia a
carta foi recebida com surpresa. A cautela se fez presente no rompimento de seu
lacre; e a curiosidade também; uma vez aberta, espalhou pela casa suas promessas,
dizeres e essência, causando mais comoção do que o pretendido. Suas folhas
marcadas por dobras foram amassadas por mãos tremulas, borradas e manchadas por
lagrimas de alegria, beijadas num súbito ataque de amor renascido e sufocadas
no peito em chamas e de respiração urgente do destinatário. Acompanhava cada
batida desritmada do coração ao qual era pressionada, e quase fora rompida com
a vibração de 200bpm. A carta foi mirada uma ultima vez, invertida enquanto a
mão que a segurava secava os olhos, recolocada no envelope e guardada embaixo
do travesseiro. Não presenciou o reencontro entre remetente e destinatário, e
tampouco suas juras de amor incontroláveis; mas durante a madrugada ficou presa
entre travesseiro, lençol e colchão quando as amantes
finalmente consumaram seus sentimentos; em dado momento fora lançada
inconscientemente ao chão, então deixou-se atingir o solo sem dar-se conta de
que o amor somente fora possível devido a sua
existência.
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
A carta
Postado por Tempus em segunda-feira, outubro 06, 2014 com Sem comentários
Categories: Serie: A Rosa de Cera
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