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terça-feira, 17 de março de 2015

Amor (Someone for everyone)

A prostituta não tem valor significativo; desfila de um lado á outro na rua vendendo aquilo que possui de melhor, como um camelô desesperado ela se anuncia com afinco e veemência, e            quando sente que nada mais tem a oferecer simplesmente vende o corpo. Em geral a prostituta não tem alma; sacrifica seus amores, engole o choro obedientemente e mantem a boca sempre cheia e fechada; se for preciso ela força o sorriso e abdica do prazer pessoal. Jamais perde tempo porque tempo é dinheiro. Ás vezes é agredida por um ou cem, mas não há como saber se dói ou magoa porque ela não é como nós, feita de sentimentos, carne ou osso, não tem vontade própria, gosto ou opinião social. A prostituta não adoece, não vai ao banheiro, não sente ciúmes e também não sofre por desilusão amorosa; como bailarina em caixa de musica ela vive de ocasião, dançando silenciosamente quando lhe permitem e só se expõe na mídia dentro de um singelo caixão. A prostituta da prazer a quem pedir sem pensar em dizer não, mas tem as melhores roupas, a melhor tecnologia, frequenta as melhores festas e contempla os melhores céus; com olhos castanhos, verdes ou roxo; ela enxerga o mundo como uma enorme cama, então se deita em qualquer calçada, se espreguiça em qualquer bar e descansa eternamente em qualquer esquina. A prostituta não pertence a ninguém, ela é simplesmente um alguém para todos.

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