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quinta-feira, 19 de março de 2015

Liberdade (Semi-voo)

Certa vez, um homem dirigiu-se para a beira de um abismo, e cansado das neuras cotidianas despe-se e deixa-se cair sem medo nos braços do escuro, sem se importar com detalhes fúteis como: Onde iria parar! Ansiava a liberdade indecorosamente e por essa razão, quando sentiu o vento bater em seu rosto e envolver delicadamente seu corpo nu, fechou os olhos e saboreou cada pedaço amargo desse novo sentimento. Assim, deixou-se ficar por um tempo curtindo aquele salto que aparentava ser infinito, somente despertando desse estado de letargia quando seu corpo atinge violentamente o solo. Uma dor estonteante o invadiu quando os ossos de suas pernas, braços e tronco se quebraram; abre os olhos demoradamente sem poder pensar em nada, sem sentir medo e sem ver a vida passar diante de seus lindos olhos verdes; segundos depois se da conta de que ira morrer e isso o entristece profundamente; desejava poder aproveitar mais a sensação de liberdade que experimentara durante a queda, e embora a dor em seu corpo seja dilacerante, ainda assim a leveza do “quase voo” persiste em povoar a sua mente. De repente começa a rir desenfreadamente, estranhando não ver o peito subindo e descendo durante a respiração que entrecorta, o sorriso se formar nos cantos da boca e se alargar e a barriga sacudindo a cada espasmo do corpo. Adorava esse processo.  De qualquer forma, não conseguia conter essa vontade insana de rir, então continuou nessa tentativa dolorosa de felicidade gargalhando tão alto e tão forte quanto seu corpo quebrado permitia; parando somente quando o excesso de sangue o fez engasgar. Olhou para o alto a fim de enxergar o Céu, mas nada viu além da insistente escuridão, passou a língua nos lábios sentindo o gosto do sangue e da amargura que lhe adoçavam a boca e curtiu mais um pouco aquela sensação de paz. Momentos antes de morrer vê uma pena de sua própria asa planar e pousar em um dos cachos de seu comprido cabelo loiro dourado; tenta abri-las com o que resta de suas forças, mas só consegue balançar as pontas, e então falece, se perguntando por que nunca as usou. 

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