Certa vez, um homem dirigiu-se
para a beira de um abismo, e cansado das neuras cotidianas despe-se e deixa-se cair
sem medo nos braços do escuro, sem se importar com detalhes fúteis como: Onde iria
parar! Ansiava a liberdade indecorosamente e por essa razão, quando sentiu o
vento bater em seu rosto e envolver delicadamente seu corpo nu, fechou os olhos
e saboreou cada pedaço amargo desse novo sentimento. Assim, deixou-se ficar por
um tempo curtindo aquele salto que aparentava ser infinito, somente despertando
desse estado de letargia quando seu corpo atinge violentamente o solo. Uma dor
estonteante o invadiu quando os ossos de suas pernas, braços e tronco se quebraram;
abre os olhos demoradamente sem poder pensar em nada, sem sentir medo e sem ver
a vida passar diante de seus lindos olhos verdes; segundos depois se da conta
de que ira morrer e isso o entristece profundamente; desejava poder aproveitar
mais a sensação de liberdade que experimentara durante a queda, e embora a dor
em seu corpo seja dilacerante, ainda assim a leveza do “quase voo” persiste em
povoar a sua mente. De repente começa a rir desenfreadamente, estranhando não
ver o peito subindo e descendo durante a respiração que entrecorta, o sorriso
se formar nos cantos da boca e se alargar e a barriga sacudindo a cada espasmo
do corpo. Adorava esse processo. De
qualquer forma, não conseguia conter essa vontade insana de rir, então continuou
nessa tentativa dolorosa de felicidade gargalhando tão alto e tão forte quanto
seu corpo quebrado permitia; parando somente quando o excesso de sangue o fez
engasgar. Olhou para o alto a fim de enxergar o Céu, mas nada viu além da insistente
escuridão, passou a língua nos lábios sentindo o gosto do sangue e da amargura que
lhe adoçavam a boca e curtiu mais um pouco aquela sensação de paz. Momentos
antes de morrer vê uma pena de sua própria asa planar e pousar em um dos cachos
de seu comprido cabelo loiro dourado; tenta abri-las com o que resta de suas
forças, mas só consegue balançar as pontas, e então falece, se perguntando por
que nunca as usou.
quinta-feira, 19 de março de 2015
Liberdade (Semi-voo)
Postado por Tempus em quinta-feira, março 19, 2015 com Sem comentários
Categories: Serie: Sentimentos
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