A janela de vidro revelava tudo.
Os móveis imóveis delimitavam o seu espaço, as paredes escondidas embaixo de um
papel florido, faziam a música ecoar por todo o cômodo, a porta de madeira
antiga estava convenientemente fechada, não que se sentisse mais segura assim,
mas é que tinha medo de que o som e a inspiração escapassem casa afora e se
escondesse, ou se aninhasse em outro peito apaixonado. O tapete abrigava seus
pés descalços que deslizavam, esfregavam em círculos ou desgrudavam em pulos
somente para encontra-lo novamente... no
mp3 preto em cima da mesa a banda The Strokes tocava. Ela dançava tão gentil e
confiante que para ele era como assistir a uma bailarina presa em sua caixa de
música gigante. A pele negra em contraste com o “tutu” branco, os olhos
castanhos misteriosamente escuros e o cabelo black alto faziam dela única e exótica,
e ela gostava de ser assim, diferente do igual e livre para poder ser ela
mesma, porque era isso que a fazia sorrir e dançar sempre mais e mais... A
banda presa no comando de repetição do mp3 se empenhava em tocar cada vez melhor
para ela, e ela se empenhava para dançar melhor para ele. Ele que nunca entrara
na sala, que nunca se aproximara do vidro, que nunca tentou alguma forma de
contato... ele, que todas as manhãs se posicionava na janela á observa-la com
brilho nos olhos; parecia entender toda a sua arte, parecia merecer todo o seu
ser, parecia dançar com ela em silencio e cantar junto o refrão que dizia:
...When i said “I can see me in your eyes”
(Quando eu disse, “eu posso me
ver em seus olhos”
You said “I can see you in my bed”
(Você disse: “Eu posso te ver na
minha cama”)
That’s not just friendship, that’s romance too
(Não é só amizade, isso é romance
também)
You like music we can dance to...
(Você é como uma música que
podemos dançar)...
0 comentários:
Enviar um comentário