No sofá Paloma observa a chuva.
Seu cobertor escorregava do ombro pela terceira vez, e ela o recolocava no
lugar pacientemente, segurava uma caneca com chá e saboreava cada gole ouvindo
a melodia da chuva que batia insistentemente na janela; ás vezes desviava os
olhos para olhar para Léo que lia absorta Hilda Hilst, gostava desses momentos
em que faziam coisas diferentes e juntas, gostava mais ainda de ficar deitada
em seu colo, era quente, aconchegante e por coincidência ou não ela se encaixava
perfeitamente nele. Isso também acontecia dentro de seu abraço; não era muito
apertado, mas não era solto demais, não era gelado, mas também não era abafado,
não sobravam braços e tampouco lhe faltava... era cheiroso... era perfeito.
Então passava parte de seu tempo livre ali, perdida em abraços, sorrisos,
sonhos e desejos. É boa, a vida. É plena, com ela! Se um dia fora tão feliz não
lembrava, tampouco lembrava se já tinha gostado tanto de alguém assim, mas
achava isso normal porque quando estava com Léo não se lembrava de muita coisa,
apenas se concentrava em seu sorriso de satisfação enquanto lia, seus olhos
castanhos seguindo os versos dos poemas, a respiração calma e controlada, o
coração que batia por ela e as mãos que distraídas lhe faziam ternas caricias.
Passeavam desinteressadas e suaves em seu rosto, contornando as linhas de
expressão, sobrancelhas, nariz, orelha e se demorando um pouco na boca antes de
recomeçar, então Paloma suspirava de satisfação e voltava a olhar á chuva.
Quando estava quase adormecendo, sentia Léo tirar a caneca de suas mãos
quentes, inclinar-se e surpreende-la com um doce beijo nos lábios, recitava em
tom de segredo um poema e colocava a mão no coração de Paloma para senti-lo
disparar de amor e alegria, depois fechava o livro e a esperava adormecer
sorrindo, olhava-a por um longo tempo e quando o cobertor escorregava de seu
ombro o colocava pacientemente no lugar, saboreava cada gole do chá que sobrara
na caneca, ouvindo a melodia de seu ressonar. Amava esses momentos em que
faziam coisas diferentes e juntas e se fora tão feliz um dia, ou se já gostou
tanto de alguém não se lembrava, mas considerava isso normal porque quando
estava com Paloma não se lembrava de muita coisa. É boa, a vida... É plena, com
ela.
sexta-feira, 20 de outubro de 2017
Paloma - 2
Postado por Tempus em sexta-feira, outubro 20, 2017 com Sem comentários
Categories: Paloma
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