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sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Paloma - 2

No sofá Paloma observa a chuva. Seu cobertor escorregava do ombro pela terceira vez, e ela o recolocava no lugar pacientemente, segurava uma caneca com chá e saboreava cada gole ouvindo a melodia da chuva que batia insistentemente na janela; ás vezes desviava os olhos para olhar para Léo que lia absorta Hilda Hilst, gostava desses momentos em que faziam coisas diferentes e juntas, gostava mais ainda de ficar deitada em seu colo, era quente, aconchegante e por coincidência ou não ela se encaixava perfeitamente nele. Isso também acontecia dentro de seu abraço; não era muito apertado, mas não era solto demais, não era gelado, mas também não era abafado, não sobravam braços e tampouco lhe faltava... era cheiroso... era perfeito. Então passava parte de seu tempo livre ali, perdida em abraços, sorrisos, sonhos e desejos. É boa, a vida. É plena, com ela! Se um dia fora tão feliz não lembrava, tampouco lembrava se já tinha gostado tanto de alguém assim, mas achava isso normal porque quando estava com Léo não se lembrava de muita coisa, apenas se concentrava em seu sorriso de satisfação enquanto lia, seus olhos castanhos seguindo os versos dos poemas, a respiração calma e controlada, o coração que batia por ela e as mãos que distraídas lhe faziam ternas caricias. Passeavam desinteressadas e suaves em seu rosto, contornando as linhas de expressão, sobrancelhas, nariz, orelha e se demorando um pouco na boca antes de recomeçar, então Paloma suspirava de satisfação e voltava a olhar á chuva. Quando estava quase adormecendo, sentia Léo tirar a caneca de suas mãos quentes, inclinar-se e surpreende-la com um doce beijo nos lábios, recitava em tom de segredo um poema e colocava a mão no coração de Paloma para senti-lo disparar de amor e alegria, depois fechava o livro e a esperava adormecer sorrindo, olhava-a por um longo tempo e quando o cobertor escorregava de seu ombro o colocava pacientemente no lugar, saboreava cada gole do chá que sobrara na caneca, ouvindo a melodia de seu ressonar. Amava esses momentos em que faziam coisas diferentes e juntas e se fora tão feliz um dia, ou se já gostou tanto de alguém não se lembrava, mas considerava isso normal porque quando estava com Paloma não se lembrava de muita coisa. É boa, a vida... É plena, com ela.

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