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domingo, 7 de setembro de 2014

A espera

Julianna era um misto de cansaço e tristeza, o pouco que conseguia dormir era para sonhar com o marido que partira para a guerra sem saber que seria pai, sentia imensamente sua falta e não passava um dia sem pensar nele. A casa vazia a deixava desesperada mas não queria deixa-la por medo de que ele não a encontrasse quando voltasse, então ficou a esperar na janela todos os dias sem se cansar. Quando soube que estava gravida ganhou novo animo, sonhava com o momento em que contaria a novidade para o amado e esse radiante de alegria a envolveria em um abraço apertado declamando seu amor; e assim sonhando estava quando chegou a noticia de que ele desaparecera em combate. Alguns meses depois da noticia, dera entrada no hospital com o coração partido e a bolsa amniótica rompida, o liquido que escorria por suas pernas lhe tirava do posto de vigia e lhe roubava a esperança.   
Enquanto amamentava olhava o neném com ternura e tentava decorar seus trejeitos, procurava na filha algum vestígio de si mesma, mas a menina nascera com pele pálida, cabelo loiro avermelhado, rosto sardento e olhos castanhos claros; nada tinha dela, nem ao menos o sorriso; tentou lamentar o fato mas desistiu, não se sentia preparada para lamentar qualquer coisa referente a essa criança, nem mesmo a total semelhança com o pai. O cansaço a dominava cada vez mais e tornava quase impossível organizar seus pensamentos, desejou ardentemente que o marido estivesse ali para segurar-lhe a mão, mas já não tinha esperanças de que ele ainda estivesse vivo; quis chorar e não conseguiu, fizera isso tantas vezes nos últimos nove meses que não lhe restava uma lagrima sequer, nem de alegria e nem de lamento. Estava vazia!
Fazia um esforço sobre-humano para manter os olhos abertos, então presenteou a filha com um beijo na testa e de coração apertado permitiu que a enfermeira a levasse. Sozinha no quarto encolheu-se preguiçosamente no leito tomada pelo sono, e olhando instintivamente para a porta viu seu marido parado com olhar apaixonado e flores nas mãos; sem saber se era desejo ou realidade adormeceu sorrindo... Amava rosas brancas!

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