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sábado, 27 de setembro de 2014

You are my girl

O nascer do Sol só fazia aumentar sua aflição, passara dois anos sonhando com esse momento e agora que estava por acontecer não sabia como fazer, pensou em agir naturalmente mas estava desesperada demais para tal coisa; afinal de contas iria revê-la.  Antes de sair do carro olhou-se mais uma vez no espelho alisando repetidamente o comprido cabelo negro com a palma da mão; retocou a base no rosto branco, conferiu o brinco, repintou o lápis nos olhos e ajeitou o relógio que ela lhe dera de presente em seu 21º aniversario. Entrou no prédio onde ela morava, atravessou o saguão, enviou-lhe um sms para avisar que estava subindo e roboticamente chamou o elevador; esperava em frente á porta do elevador batendo o pé direito no chão num ritmo imaginário, enquanto os dedos da mão esquerda tamborilavam em seu quadril seguindo o mesmo ritmo, de vez em quando ajeitava o cabelo atrás das orelhas sem se dar conta do próprio ato. Entrou no elevador perdida em si mesma.
Sentia que sua impaciência aumentava de forma incontrolável, tinha a impressão de que demoraria uma eternidade para chegar ao 15º andar, suas mãos suavam, suas pernas tremiam, seu peito apertava, os dentes roíam violentamente as unhas, o ar lhe faltava e seu coração batia tão forte que lhe doía o peito; todas as lembranças que guardara das duas juntas se remexiam em sua mente e a deixava desnorteada. Seguia nessa crise de ansiedade crescente quando o elevador teve uma falha técnica; estava tão envolta em seus sentimentos que demorou um tempo para perceber que ficara presa exatamente no 15° andar. Fitou firmemente o painel de vidro e esperou que a porta abrisse, mas nada aconteceu; o elevador permaneceu imóvel, estático como seu amor por ela e estagnado como sua doce ilusão. Uma gota de suor passeou por sua espinha vertical, tremeu no momento em que seu deu conta de sua triste situação, - Estou presa na droga do elevador., constatou em voz alta e com olhos verdes arregalados.
Duas horas depois respirava com dificuldades. Estava sufocando; a caixa metálica que media L.1100 mm x P.1400 mm a mantinha encarcerada e longe de seu único amor, esperara muito para revê-la e agora mesmo perto parecia imensamente longe. Sentiu-se idiota ao lembrar que se separara dela quando descobriu que era uma porn star; não podia dividi-la mesmo sabendo que não se deitava com outros por amor; abandonou-a sem prévio aviso, e jamais pôde esquecê-la. Encostou-se na parede procurando apoio quando o painel, o corrimão, o espelho e as portas começaram a girar juntos, transformando-se num carrossel infernal, apoiou as mãos nos joelhos, o lugar estava cada vez mais quente e as lembranças se debatiam nas paredes de sua mente. Lembrava-se de ouvir mensagens de amor deixadas diariamente na caixa postal, e pedidos de desculpas desesperados; eram sinceros e carregados de saudade e pesar, doía-lhe ouvir a voz tão chorosa, mas era orgulhosa demais para admitir que também a queria de volta. Dois meses depois as declarações e as desculpas cessaram, e para seu total desespero ela sumira de vez; procurou-a por dois anos se sucesso, e já estava decidida a desistir quando finalmente conseguiu seu numero de celular; ficou surpresa em perceber que ela não lhe guardara magoas, então marcou de ir em seu apartamento na manhã seguinte, e desde então não pôde mais se concentrar, comer ou dormir. Ainda estava apaixonada.

O suor e as lagrimas escorriam-lhe pela face borrando a maquilagem feita com esmero, o ar foi tornando-se cada vez mais difícil de consumir e sua visão cada vez mais turva, ajoelhou-se levando uma mão ao peito e apoiando a outra no chão, - Falta pouco para abraça-la., dizia a si mesma repetidamente tentando manter a calma; de repente a doce voz de Christine soou do outro lado fazendo com que  a ansiedade a invadisse por completo; deitou virada para a porta sem poder mais sustentar o peso do próprio corpo, o peito doía por conta da ausência de ar, engolia em seco e chorava com a intensidade que lhe era permitida; antes de perder completamente a consciência ouviu a porta do elevador abrir, e um segundo depois pôde assistir Christine gritar em pânico ao vê-la caída ; com o que lhe restava de energia construiu um cansado sorriso e satisfeita desfaleceu sem urgência.

Quando finalmente abriu os olhos, estava no quarto e na cama de Cristine; assustada, tentou-se levantar mas foi impedida pelo cansaço, então virou para a esquerda e a viu sentada a seu lado; o rosto pálido, sardento e carregado de preocupação estava próximo o suficiente para um beijo doce e desavisado; estar assim tão perto aumentava a necessidade que vinha sentindo dela desde as 03h00min AM, diminuía sua ansiedade descontrolada e aplacava o louco palpitar de seu coração. Podia sentir seu hálito de chiclete de menta, seu cheiro natural, curtir a pele macia enquanto ela segurava sua mão e se espelhar em seus olhos castanho claro. Ela era sublime!

Respirou fundo e contemplou-a pacientemente como se a visse pela primeira vez, se prendeu em detalhes objetivando gravar na retina cada pedaço de seu ser, viu-a suspirar de prazer inegável quando rapidamente lhe contornou os lábios com dedos impacientes; e quase enlouqueceu de satisfação quando em seguida ela lhe tracejou cada linha do rosto com o dedo indicador. Sem poder se conter beijou-a delicadamente no rosto e enroscou as mãos tremulas em seu cabelo ruivo, em seguida abraçou-a docemente e quase enlouqueceu de tanta saudade; suas aflições e lembranças às abandonaram, permitindo que novas memorias fossem construídas a partir de ali. - Eu te amo! A frase dita quase ao mesmo tempo pelas duas ecoou por todo o quarto, se espalhando no ar e rebatendo nas paredes preenchendo todo o local em segundos; a magoa, o ressentimento, a desconfiança, a frustração e a decepção foram esquecidos no momento em que elas se beijaram; sem culpa sanaram a saudade, e entre olhares e abraços dormiram satisfeitas.

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