Voltava do enterro com o coração
partido, a aliança ainda no dedo anelar da mão esquerda parecia ter 200 quilos
agora, mas ainda assim não queria tira-la, tentava manter-se forte por isso não
derramara nenhuma lagrima desde que vira o corpo no chão. Andava sem rumo
dentro do apartamento indo de um cômodo a outro sem objetivos e evitando a todo
custo o quarto do casal; o terno preto que usara no enterro o estava sufocando,
e sem opções enfrentou por fim o aposento. Tudo estava igual. A cama arrumada,
as roupas dobradas, os casacos pendurados e os chinelos alinhados lado a lado;
abalado sentou-se na cama do lado onde ela dormia, e quando se inclinou para
cheirar o travesseiro viu a carta em cima do criado mudo, hesitou um momento antes
de tocar no que poderia ser seus últimos dizeres; ainda não se sentia preparado
para aceitar a morte dela. Fechou os olhos respirando fundo e pegou a carta prendendo
o ar involuntariamente. Olhou em volta e a lembrança dos últimos momentos que
estiveram juntos no apartamento o tomou de assalto. Era insuportável!
-Mas é meu aniversario!, a exclamação soou quase inaudível. Fingindo
não ouvir ele pegou as malas, beijou-a roboticamente nos lábios e saiu do
apartamento em silencio e determinado a viajar. Do elevador pôde vê-la
encostada no batente da porta com uma carta na mão, seus
olhos castanhos e tristes o encarava, a boca apertada segurando um
ultimo protesto e a mão parada no ar como se tentasse alcança-lo. Tentou
dizer-lhe algo mas desistiu, abaixou a mão e limitou-se a deixar as lagrimas se
manifestar por ela, então a porta do elevador se fechou bruscamente,
interrompendo o momento intimo e desagradável.
Vinte e cinco minutos depois ele ainda
estava sentado na cama, imóvel e perdido em amargas lembranças, segurava a
carta com a mão esquerda como quem tenta segurar o ultimo fio de vida, enquanto
a mão direita tentava em vão socorrer as lagrimas que despudoradamente lhe
descia a face; e assim deixou-se ficar por mais um tempo até esgotar toda a sua
angustia. Quando finalmente se acalmou desdobrou o papel com cautela, esperava
ler algo que justificasse aquele aparente suicídio, talvez um pedido de
desculpas ou uma reclamação... Quem sabe uma declaração! Leu e deixou-se magoar
aos poucos, abaixou a cabeça, encurvou as costas e soltou os ombros; o peso do
corpo de repente tornara-se insustentável, então largou-se de vez na cama
desejando não mais poder acordar. Inocentemente, a carta planou da mão ao chão
despercebida e caiu aberta como se não mais pudesse guardar seus segredos; em
letras perfeitamente desenhadas ela revelava os dizeres que lhe arrebatou a
alma: “Let this
reach you and keep you warm; my love hasn’t budged. Come home! Karli.”.
(Deixe alcançar e manter você
aquecido; meu amor não se mexeu. Volta pra casa!)
Uma obra que deixa sem ar da primeira a ultima letra! Ufa... Suspirei!
ResponderEliminarFico imensamente feliz que tenha gostado ^^" ....
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