Corria sem saber ao certo se a
encontraria, já eram 10h30min AM e estava atrasado mas ainda assim insistia em
ter esperanças, tinham se conhecido um dia antes na livraria e ela despertara
nele algo que já não sentia havia tempos, ou que talvez
nunca tivesse sentido. O encontro dos dois foi como um desses
inexplicáveis, se olharam e cinco segundos depois já sabiam que se queriam
mesmo antes de trocar palavras. Marcaram de se ver as 10h00min AM do dia
seguinte dentro da livraria.
Agora parado na porta, a ideia de
encontra-la deixava de fazer sentido. - Porque
mesmo eu deveria entrar nessa livraria? Falava sozinho. -Talvez devesse desistir! Lembrou-se que
nem ao menos a conhecia. – E se ela não
estiver lá? A chuva o acalmava. - Vou
entrar. Chocou-se com ela ao se virar; passado o susto seus olhos verdes finalmente
a enxergou, ela era linda, que de tanto lhe calou o discurso metodicamente
ensaiado; seus cachos loiros estavam desfeitos pela chuva, a pele alva e
salpicada de nascença fazia contraste com o dia chuvoso de nuvens cinzentas e
sua boca rosada e entreaberta lhe roubava o pedido de desculpas. Ela me lembra
alguém, pensou. Por fim não pôde fazer mais que olhar, então ela sorriu
aquiescendo, ele retribuiu o sorriso e ambos se olharam silenciosamente como se
não se vissem desde muitas décadas; então ele a abraçou sem desviar o olhar, e
naquele momento, cada qual lutou internamente com seus medos, solidão, suas
magoas e desilusões. Não disseram nada um ao outro, talvez não quisessem
estragar o momento, talvez só não soubessem o que dizer.
Do outro lado da rua Rachell
assistia a tudo desolada, passara a noite em claro pensando nele e sabia que
precisava se declarar, já fazia cinco dias que o olhava suspirando e toda vez
que o via sentia que era capaz de curar-lhe a tristeza. Pela manhã, arrumou-se
e saiu dominada pela esperança de finalmente poder abraçar o seu primeiro amor;
mas quando chegou o abraço que tanto sonhou ganhar já tinha sido oferecido a
outra. Desconsolada e remoendo cada palavra não declamada, deixou-se molhar
pela chuva, e sem poder ir embora ficou olhando-os caminhar até que esses
viraram um ponto difuso em meio à multidão.
Na esquina um cachorro escapara e
avançava em um idoso, dois carros colidiram enquanto um caminhão desviava de
cinco crianças que distraidamente atravessavam a rua no farol fechado, alguém
praguejava ao perder o ônibus, mas eles iam tranquilos e abraçados. Não pararam,
não fizeram menção de voltar e nem sequer a notaram do
outro lado da rua.
Em seu apartamento e sem se
importar com nada ela foi se servindo dele devagar e deliciosamente, em cada beijo,
em cada olhar e em cada toque, como quem toma o mais refinado vinho; lá pelas
tantas da madrugada e já embriaga de beijos e caricias entregou-se sem a menor
cerimonia. Ele, rendido desde a porta da livraria, só queria perder-se no calmo
castanho de seu olhar e aos poucos foi se entregando, confiando e se enroscando
em seu calor; o amor o consumia mais do que ele permitia e juntos foram
sorrindo, sentindo e se fundindo no silencio.
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