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terça-feira, 16 de setembro de 2014

Encontro e Desencontro (A esperança)

Corria sem saber ao certo se a encontraria, já eram 10h30min AM e estava atrasado mas ainda assim insistia em ter esperanças, tinham se conhecido um dia antes na livraria e ela despertara nele algo que já não sentia havia tempos, ou que talvez nunca tivesse sentido. O encontro dos dois foi como um desses inexplicáveis, se olharam e cinco segundos depois já sabiam que se queriam mesmo antes de trocar palavras. Marcaram de se ver as 10h00min AM do dia seguinte dentro da livraria.
Agora parado na porta, a ideia de encontra-la deixava de fazer sentido. - Porque mesmo eu deveria entrar nessa livraria? Falava sozinho. -Talvez devesse desistir! Lembrou-se que nem ao menos a conhecia. – E se ela não estiver lá? A chuva o acalmava. - Vou entrar. Chocou-se com ela ao se virar; passado o susto seus olhos verdes finalmente a enxergou, ela era linda, que de tanto lhe calou o discurso metodicamente ensaiado; seus cachos loiros estavam desfeitos pela chuva, a pele alva e salpicada de nascença fazia contraste com o dia chuvoso de nuvens cinzentas e sua boca rosada e entreaberta lhe roubava o pedido de desculpas. Ela me lembra alguém, pensou. Por fim não pôde fazer mais que olhar, então ela sorriu aquiescendo, ele retribuiu o sorriso e ambos se olharam silenciosamente como se não se vissem desde muitas décadas; então ele a abraçou sem desviar o olhar, e naquele momento, cada qual lutou internamente com seus medos, solidão, suas magoas e desilusões. Não disseram nada um ao outro, talvez não quisessem estragar o momento, talvez só não soubessem o que dizer.
Do outro lado da rua Rachell assistia a tudo desolada, passara a noite em claro pensando nele e sabia que precisava se declarar, já fazia cinco dias que o olhava suspirando e toda vez que o via sentia que era capaz de curar-lhe a tristeza. Pela manhã, arrumou-se e saiu dominada pela esperança de finalmente poder abraçar o seu primeiro amor; mas quando chegou o abraço que tanto sonhou ganhar já tinha sido oferecido a outra. Desconsolada e remoendo cada palavra não declamada, deixou-se molhar pela chuva, e sem poder ir embora ficou olhando-os caminhar até que esses viraram um ponto difuso em meio à multidão.
Na esquina um cachorro escapara e avançava em um idoso, dois carros colidiram enquanto um caminhão desviava de cinco crianças que distraidamente atravessavam a rua no farol fechado, alguém praguejava ao perder o ônibus, mas eles iam tranquilos e abraçados. Não pararam, não fizeram menção de voltar e nem sequer a notaram do outro lado da rua
Em seu apartamento e sem se importar com nada ela foi se servindo dele devagar e deliciosamente, em cada beijo, em cada olhar e em cada toque, como quem toma o mais refinado vinho; lá pelas tantas da madrugada e já embriaga de beijos e caricias entregou-se sem a menor cerimonia. Ele, rendido desde a porta da livraria, só queria perder-se no calmo castanho de seu olhar e aos poucos foi se entregando, confiando e se enroscando em seu calor; o amor o consumia mais do que ele permitia e juntos foram sorrindo, sentindo e se fundindo no silencio.

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