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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Através do olhar (Despercebidas)

A lente roubava a pureza da cena, não que fizesse intencional, mas ainda assim era fria e desumana ao registrar aquele momento. Os moveis ao redor, a ultima roupa da moda, o cabelo bem penteado e a maquiagem impecável, escondiam de forma gloriosa a tristeza que as modelos traziam em suas almas. De olhos fechados, cada qual tentava em vão superar a magoa e esquecer o motivo que as mantiveram separadas por quase um ano inteiro; as mãos suavam, os corpos tremiam, os corações as traiam e a saudade se dilatava incontrolavelmente. Mas a câmera não pôde ser mais e nem menos humana, e lhes exigia profissionalismo. Abraçadas, ruiva e morena tentavam se transfundir, se misturar e difundir; o amor implícito limpava os pensamentos, adoçava as bocas e lhes transbordava a alma. Nada mais importava. Desapercebida, a lente deixou que a hora e a volúpia passassem despercebidas, e o coração se acalmou, o abraço se desfez e a magoa interrompeu indecorosamente o único olhar sincero. No fim, restou á elas um beijo gelado com a duração de um piscar, e tudo terminou em um click; a lente se fecha caprichosamente lhes roubando o tempo, os sentimentos, a intimidade e a dignidade de um coração partido. A foto revelada no dia seguinte, dissolvia a perfeição do momento e inseria no amargor uma infinidade de significados.

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