A lente roubava a pureza da cena,
não que fizesse intencional, mas ainda assim era fria e desumana ao registrar
aquele momento. Os moveis ao redor, a ultima roupa da moda, o cabelo bem
penteado e a maquiagem impecável, escondiam de forma gloriosa a tristeza que as
modelos traziam em suas almas. De olhos fechados, cada qual tentava em vão
superar a magoa e esquecer o motivo que as mantiveram separadas por quase um
ano inteiro; as mãos suavam, os corpos tremiam, os corações as traiam e a saudade se dilatava incontrolavelmente. Mas a câmera
não pôde ser mais e nem menos humana, e lhes exigia profissionalismo. Abraçadas,
ruiva e morena tentavam se transfundir, se
misturar e difundir; o amor implícito limpava os pensamentos, adoçava as bocas
e lhes transbordava a alma. Nada mais importava. Desapercebida, a lente deixou
que a hora e a volúpia passassem despercebidas, e o coração se acalmou, o
abraço se desfez e a magoa interrompeu indecorosamente o único olhar sincero. No
fim, restou á elas um beijo gelado com a duração de um piscar, e tudo terminou
em um click; a lente se fecha caprichosamente lhes roubando o tempo, os
sentimentos, a intimidade e a dignidade de um coração partido. A foto revelada
no dia seguinte, dissolvia a perfeição do momento e inseria no amargor uma
infinidade de significados.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Através do olhar (Despercebidas)
Postado por Tempus em sexta-feira, setembro 05, 2014 com Sem comentários
Categories: Serie: A Rosa de Cera
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