RSS
Facebook
Twitter

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Innocence

Rachell Rios era uma adolescente recatada, que aos 15 anos não conhecia as maldades e malicias da vida, nascida e criada em cidade pequena, os pais a protegiam de tudo, de todos e até das verdades da vida. Não frequentava a escola como as outras crianças e tampouco tinha professor particular, aprendia o que precisava com a mãe e o resto ficava por conta dos livros de instruções.  – Quanto menos contato melhor. Era o que dizia seu amado pai.
A menina se contentava com pouco por não saber o que era o muito, e sempre encontrava prazer nas pequenas coisas da vida. Acariciava sua gata Lola, sonhava com o cantar dos pássaros, retribuía se um idoso lhe sorria da janela e quando podia sair de casa se deliciava assistindo as crianças brincarem; às vezes quase atingia o ápice da satisfação ao conversar com alguém enquanto tomava um sorvete, e outras vezes ficava mortificada por não poder ajudar quem precisasse. Era um ser solitário de alma pura e transparente.
Seu pai Robin Rios era empresário e colecionador compulsivo de filmes, um ex-militar de fala grossa e personalidade difícil, quando se decidia por algo ninguém o fazia mudar de ideia. Ao saber que era pai de uma garotinha ficou atônito, sabia que vivia em um mundo cheio de maldades e malicias; e assombrado pelas lembranças da guerra, decidira por educar a filha em casa e priva-la das desilusões, mas a menina ficara tão inocente que ele já não sabia se realmente tinha tomado à decisão certa.
Sua mãe era o oposto, mulher linda e elegante, postura digna de primeira dama, falava manso e deixava qualquer homem imediatamente rendido; o que ninguém além do marido sabia, era que essa discreta mulher fora uma promissora modelo e estrela de filmes adultos que cinco dias após conhecê-lo abandona os sets partindo o coração de milhares de fãs; com uma aliança no dedo e o sonho de uma vida mais digna, Scarlett Rivers some para o mundo e deixa nascer Julianne Rios.
Algumas vezes e sem poder evitar, ela abandona a dona de casa exemplar e cede lugar á aposentada Scarlett Rivers para a satisfação do marido e talvez até para a própria; domada pela sombra do passado, dança jogando os cabelos enquanto seus olhos brilham de prazer ao ver a malicia servir de mascara para seu amado que consumido pela impaciência de cliente apaixonado se atraca a dançarina com saudade insaciável.
Certa noite, acordando de um pesadelo a inocente Rachell ouve vozes vindo do quarto dos pais, e temendo ser uma briga decide verificar o que estava acontecendo, ao perceber a porta entreaberta aproxima-se sorrateiramente para não alerta-los, sabia que o pai a protegia de tudo e não lhe diria se fosse realmente uma discussão. Esperava ver os pais de pijamas conversando ou esbravejando, mas flagra dois amantes envoltos no passado. A mãe com calma angustiante rebolava de joelhos em cima do pai, seus cabelos negros soltavam no ar um cheiro inebriante enquanto balançava e suas costas nuas se arrepiavam de prazer; o pai embaixo assistia a tudo como um telespectador idiotizado e rendido. A menina naturalmente maravilhada, se retira em silencio para não interromper-los, o medo do pesadelo agora insignificante, dá espaço ao que identificou como um misto de prazer e adoração.
Na manhã seguinte ainda impressionada, comenta o ocorrido com o pai e recebe a explicação de que tudo era parte de uma dança que a esposa o estava ensinando. Julianne chocada com as mentiras cada vez mais ridículas, tenta falar a verdade para a filha mas Robin a interrompe bruscamente. Mais tarde tenta convencer o marido, de que já era hora de a menina crescer, mas esse não faz caso e engrossa a voz dizendo que para ele Rachel será sempre sua garotinha e da à conversa por encerrada. A esposa lamenta!
Nas tardes de Sábado os Rios tinham por habito se reunir na sala para conversar e assistir filmes, às vezes quebrando a rotina a família convidava um ou dois casais de amigos para jantar, e assim Rachell tinha a sorte de poder interagir com garotos de sua idade sob o olhar atento do pai; e mesmo controlada, se deliciava com as historias e estórias que seus amigos instantâneos contavam para impressiona-la; mas desta vez seus pais a deixaram sozinha em casa e ela não teve opção a não ser ver filmes com sua gata, foi até a coleção particular de Robin e decidiu-se pelo filme “My Girlfriend”, distraída com as manhas de Lola não percebeu que o filme não correspondia à capa, só se deu conta do fato quando na tela aparece o titulo em francês: “Journal de la vilaine fille”. Ficou surpresa em não reconhecer o nome, mas sabia que seu pai sempre adquiria títulos novos e que nem sempre guardava os filmes nas capas corretas, portanto não estava surpresa; acomodou a gata em uma das almofadas do sofá e dedicou toda a sua atenção á produção.
O filme era um desses de roteiro fraco e conteúdo nulo, onde duas pessoas supostamente formando um casal compõe o elenco inteiro, e depois de quarenta minutos de frenética interação corporal os atores suados e cansados, sorriem felizes por fazerem parte de um titulo de sucesso. “Journal de la vilaine fille” era mais uma produção independente  gravada em Home Studio, mas para a telespectadora involuntária nada disso tinha importância porque ela só tinha olhos para a atriz principal.
A atriz. Rachell nunca a vira tão linda, os cabelos longos era uma fina cortina de seda negra que lhe caiam pelos ombros e desciam pelas costas brancas só para enroscarem em sua fina cintura, os olhos verdes claros brilhavam de prazer e sua boca carnuda hora vermelho natural, hora branco artificial roubava de seu parceiro a merecida atenção. Os dois se enroscavam ardentemente quase esquecidos da câmera, ela ou ele por baixo, eles de lado ou em pé, não fazia diferença; qualquer posição encaixava-os perfeitamente. Falar ou respirar ficava cada vez mais difícil, então limitaram o dialogo á gemidos ininteligíveis, olhares significantes e quando possível um sofrido esfregar de língua que caracterizavam como beijo. Era demoníaco.

A garota sem ter noção de pornografia e que por natureza se encantava facilmente, não podia piscar de tanta admiração, nunca vira nada tão lindo quanto aqueles movimentos, eram exóticos e fascinantes, extravagantes e definitivamente encantadores. Instantaneamente lembrou-se da mãe dançando gloriosamente para o pai, e um segundo depois se levanta do sofá com o rosto iluminado, e como quem tem todo o tempo do universo, retira caprichosamente suas roupas e põe-se a dançar com inocência quase obscena no olhar; momentos depois Robin e Julianne entram na sala e deparam-se com a filha nua e ardendo de alegria, reconhecendo-se na televisão e sem saber o que dizer, ela atravessa a sala e cobre a filha com seu casaco, mas decidida, a menina retira o manto dos ombros e para desespero do pai aponta para a tela e anuncia sorrindo: - Quero ser dançarina!

0 comentários:

Enviar um comentário