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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Boneca de Luxo

Assim que trancou a porta do banheiro da suíte olhou-se no espelho, tinha o lábio inferior inchado e dolorido, mas ainda assim insistia em passar o batom vermelho, cada toque era um choque de dor insuportável que a fazia se encolher e errar o local da pintura; esperava conseguir cobrir os cortes e esconder os hematomas, mas sabia que não ficaria perfeito como o lábio superior. Na mão esquerda a garrafa de The Dalmore Trinitas bebida até a metade, balançava perigosamente em cada soluço de choro, e a cada instante precisava fazer mais esforço para mantê-la presa entre seus finos e compridos dedos.
Serviu-se de um largo trago da garrafa como quem beija apaixonadamente, e recebendo nova onda de dor encarcera o liquido na boca; quinze segundos depois respira fundo, endireita o ombro e repousa a garrafa no balcão da pia voltando sua atenção para a maquilagem. Com mãos tremulas, mune-se de um lápis mal apontado e tenta contornar os olhos entre um vacilo e outro, o lápis dança da direita pra esquerda marcando rudemente seus finos traços e aumentando o numero de arranhões em seu rosto.
No bolso do roupão da Victoria’s Secret, o IPhone 4S de Diamante toca insistentemente mas ela não atende; com os olhos castanhos fixos em sua imagem no espelho, engole a bebida que esquecida na boca fazia o rasgo em sua língua arder; o liquido que agora é uma mistura nojenta de whiskey, saliva e sangue lhe provoca forte ânsia e a obriga a se ajoelhar babando.  O mundo lhe parecia um lugar terrível. Com um impulso senta no sofá ao lado do espelho cobrindo a cabeça com as mãos, e em seguida gargalha como louca até o riso transformar-se em choro desesperado; quando finalmente se acalma, alcança a garrafa e volta a beber.
Num surto, ajeita o roupão e se analisa no espelho: lábios machucados e borrados, dentes manchados de batom vermelho, olhos mal pintados e quase fora de orbita, mãos e braços arranhados e o cabelo ruivo natural despenteado.  Secou desajeitadamente as lagrimas. Gargalhou mais uma vez só pra ter certeza de que não estava de todo triste, mas seu hálito inflamável lhe provoca nova ânsia. Passado o enjoo, levanta e se prepara para deixar o banheiro da suíte de luxo, então escorrega na garrafa e machuca o pulso quando se apoia na porta. Ignora a dor. – Precisa parecer feliz Rachell, precisa parecer feliz...! Repetiu seguidamente em voz baixa até a frase perder o sentido.
No quarto o cliente a espera deitado e sorrindo, parecendo não se importar com os ferimentos que havia lhe causado; assim que a vê deixar o banheiro, levanta da cama e se aproxima devagar saboreando cada segundo de desespero que estava provocando. Sem dizer palavra retira de sua carteira R$ 500.000,00 para pagar o programa, joga o dinheiro para o alto e a derruba com um safanão. 
Entre resmungos e soluços seus olhos foram fechando, a dor amenizando, a cabeça ficando mais leve, a vida voltando ao foco e a chuva de dinheiro caindo. Tranquila ela vai se perdendo dentro de si, como se fosse um labirinto complicado de sair. O tapete no chão foi esquentando, e se ajustando ao formato de seu corpo enquanto o dinheiro espalhado lhe dava uma falsa sensação de sobriedade. – Volto semana que vem, disse o cliente roubando-lhe a breve paz.    – Estarei te esperando., responde ela procurando outra garrafa de whiskey.

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