De repente, sentiu que todo o peso do mundo recaia sobre si, e não podendo mais se segurar, caiu, e quebrou; deixando escapar as preciosidades que havia guardado em seu intimo.
terça-feira, 9 de dezembro de 2014
segunda-feira, 8 de dezembro de 2014
Microconto - 10
Postado por Tempus em segunda-feira, dezembro 08, 2014 com Sem comentários
Inundada de amor falou tudo, falou boca, falou língua e falou
dentes; falou olhos chorosos, abraços apertados e sorrisos não correspondidos, cartas,
musicas e versos perdidos, falou a honra e o desespero. Falou até o coração
partido.
domingo, 7 de dezembro de 2014
Nanoconto - 09
Postado por Tempus em domingo, dezembro 07, 2014 com Sem comentários
Sem palavras estreitou-a em seus braços, e quando se sentiu
pronto desfez o abraço consciente de que embora não sua, ela finalmente seria feliz.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
Verso - 26
Postado por Tempus em sexta-feira, dezembro 05, 2014 com Sem comentários
quarta-feira, 3 de dezembro de 2014
Verso - 25
Postado por Tempus em quarta-feira, dezembro 03, 2014 com Sem comentários
quinta-feira, 27 de novembro de 2014
Frase - 02
Postado por Tempus em quinta-feira, novembro 27, 2014 com Sem comentários
terça-feira, 25 de novembro de 2014
Microconto - 09
Postado por Tempus em terça-feira, novembro 25, 2014 com Sem comentários
Espantado, olhava-se no espelho da
vizinha sem reconhecer a própria imagem; toca em sua face com a ponta dos dedos
sentindo a pele macia e barbeada, contempla o cabelo bem cortado e os olhos castanhos
conformados. Distraído, recorda sem nitidez da época em que se empenhava para ser
o espelho do mundo; e envergonhado, chora ao perceber que deixara o sonho morrer
ao se contentar apenas em se envaidecer no espelho de alguém.
terça-feira, 18 de novembro de 2014
Frase - 01
Postado por Tempus em terça-feira, novembro 18, 2014 com Sem comentários
domingo, 16 de novembro de 2014
Microconto - 08
Postado por Tempus em domingo, novembro 16, 2014 com Sem comentários
Um dia quando as bocas se
encontraram, uma onda de amor os invadiu violentamente, os corações acelerados
doíam no peito e ao se mirarem perceberam que até aquele momento nunca tinham
se visto; a urgência em se consumirem diminuiu junto com as diferenças, o
abraço, os pequenos gestos, as manias e os defeitos de repente passaram a ser mais
importantes que o desempenho na intimidade; era parte deles, do que os tornava
fortes, do que os unia e do que mantinha o sentimento vivo.
quarta-feira, 12 de novembro de 2014
Verso - 24
Postado por Tempus em quarta-feira, novembro 12, 2014 com Sem comentários
quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Verso - 23
Postado por Tempus em quinta-feira, novembro 06, 2014 com Sem comentários
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
Microconto - 07
Postado por Tempus em quarta-feira, novembro 05, 2014 com Sem comentários
Trancado no quarto sentia-se incomodo com sua refém; e já cansado de perambular pensativo entre um móvel e outro e de dizer-lhes insanidades cruéis, deita-se suspirando em seu colo macio e familiar, e evitando aqueles calmos olhos castanhos, chora copiosamente, finalmente conseguindo a atenção que jamais foi sua.
quinta-feira, 30 de outubro de 2014
Microconto - 06
Postado por Tempus em quinta-feira, outubro 30, 2014 com Sem comentários
Chorava em cima da ultima carta de amor,
Apagando inescrupulosamente
Cada letra que a compunha
Com suas lagrimas desamparadas.
terça-feira, 28 de outubro de 2014
Microconto - 05
Postado por Tempus em terça-feira, outubro 28, 2014 com Sem comentários
As palavras enroscaram-se na língua,
Ecoaram na boca,
Debateram-se nos dentes,
Debateram-se nos dentes,
E desfizeram-se num expirar contido
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Verso - 22
Postado por Tempus em quinta-feira, outubro 23, 2014 com Sem comentários
quarta-feira, 22 de outubro de 2014
Verso - 21
Postado por Tempus em quarta-feira, outubro 22, 2014 com Sem comentários
sábado, 18 de outubro de 2014
Microconto - 04
Postado por Tempus em sábado, outubro 18, 2014 com Sem comentários
sexta-feira, 17 de outubro de 2014
Poema - 04
Postado por Tempus em sexta-feira, outubro 17, 2014 com Sem comentários
quarta-feira, 15 de outubro de 2014
Poema - 03
Postado por Tempus em quarta-feira, outubro 15, 2014 com Sem comentários
terça-feira, 14 de outubro de 2014
Verso - 20
Postado por Tempus em terça-feira, outubro 14, 2014 com Sem comentários
segunda-feira, 13 de outubro de 2014
Verso - 19
Postado por Tempus em segunda-feira, outubro 13, 2014 com Sem comentários
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Poema - 02
Postado por Tempus em sexta-feira, outubro 10, 2014 com 1 comentário
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
O ultimo conto
Postado por Tempus em quinta-feira, outubro 09, 2014 com Sem comentários
Desculpem-me, mas hoje vocês são
a historia.
Vocês leitores são o mais
sensacional que pode existir dentro de uma estória: Vibram, dão sentido, vida,
ênfase e ideias que nem mesmo o criador ousou ter.
O ultimo conto são vocês! Seus
sonhos, caráter, suas façanhas, as doces e loucas memorias, as tristes lágrimas
e os mais raros sorrisos; então, se explorem, se conheçam a fundo, se
reinventem, se permitam e vivam intensamente. Façam histórias dentro do coração do
mundo, criem estórias para outros sonharem com vocês, espalhem-se para que as
pessoas não esqueçam a preciosidade que vocês são, e cresçam, para que vocês nunca duvidem da
capacidade que possuem.
Saibam que não é possível viver para
sempre, mas é surpreendente quando conseguimos deixar em tudo e em todos uma
gota de nós.
Mas não se limitem em ser meras historias,
sejam livros raros para que eu tenha o prazer de coloca-las na minha estante, e
como boa leitora vou absorver cada palavra de suas aventuras com a finalidade
de não mais esquece-las, e como boa contista vou me inspirando em vocês para
novas criações.
Sejam grandes, e acima de tudo; - Sejam felizes!.
quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Verso - 18
Postado por Tempus em quarta-feira, outubro 08, 2014 com Sem comentários
Verso - 17
Postado por Tempus em quarta-feira, outubro 08, 2014 com Sem comentários
terça-feira, 7 de outubro de 2014
Inexplicável
Postado por Tempus em terça-feira, outubro 07, 2014 com Sem comentários
De repente suas lembranças me
invadem a mente e já não posso mais ficar quieta; debato-me nas paredes de meus
sentimentos ao lembrar de sua boca ser uma aquarela deliciosamente linda, e de
sempre pintar meus lábios com seus beijos; minha boca até então apática, agora
exala uma escala infinita de cores. Nosso épico abraço na chuva também é algo
que não posso esquecer, foi exatamente nesse momento em que o mundo ficou gelado,
mas eu permaneci quente por causa do seu amor, e de repente me dei conta de que
já não era mais quem pretendia ser. Eu sou melhor se junto a você.
Ando de um lado a outro inquieta remoendo
sua falta, te vejo em cada canto, em cada esquina e em cada olhar; tento dormir
para me desligar mas se fecho os olhos você ainda esta lá, ás vezes no pedaço
mais escuro de meu coração, outras vezes no pedaço mais claro; e a vida segue
sem paz; meus olhos verdes sempre a te procurar, meu fraco coração batendo em
desespero, e nossas gatas Whiskey e Lola
também a sofrerem. Em algumas noites as flagro deitas no tapete em frente à
porta ansiando seu regresso, então me deito entre elas e me ponho a esperar pacientemente
acarinhando entre suas orelhas. Não consigo me livrar de ti mesmo que tente.
Ontem, finalmente joguei fora todas
as nossas fotos juntas, de tanto olhar elas perderam o significado, ficaram
vazias de sentimentos e tornaram falsos nossos ilustres momentos; as viagens,
as brigas, as festas surpresas, parecem agora fazer parte de um passado remoto
pintado a guache. As lagrimas de saudade que caíram nelas deixaram marcas, manchas,
escorreram e se derramaram molhando o chão; então decidida, ensaquei nossas
lembranças e sai á comprar uma Hasselblad H4D – 200MS para um dia registrar outros
momentos. Perdoe-me!
Essas são as ultimas linhas que
escrevo relatando sua amarga ausência; vou assinar, selar essa carta e
coloca-la em cima da cama junto com as outras quatorze; a mesa já esta posta
para o jantar, as velas acessas, as gatas no tapete á esperar e meu coração
bate ansioso. Tudo esta como deixou. Estou em nostálgica. Ouço seus passos
ecoando na escada e sua respiração cada segundo mais próxima, meu corpo anseia
seu abraço e minha boca quer colorir-se mais uma vez. Que bom que voltou. A
vida não tem graça sem você!
Verso - 16
Postado por Tempus em terça-feira, outubro 07, 2014 com Sem comentários
segunda-feira, 6 de outubro de 2014
Verso - 15
Postado por Tempus em segunda-feira, outubro 06, 2014 com Sem comentários
A carta
Postado por Tempus em segunda-feira, outubro 06, 2014 com Sem comentários
A carta foi planejada com esmero,
e cada palavra escrita fazia parte de um conjunto de
sentimentos expostos, gravados em folhas brancas num ato insensato de
amor; foi revisada, passada a limpo, relida, lacrada e beijada carinhosamente
pelo remetente. Nos primeiros raios da manhã atravessou a cidade decidida, foi
selada, paga e enviada com ansiedade e insegurança. Antes da metade do dia a
carta foi recebida com surpresa. A cautela se fez presente no rompimento de seu
lacre; e a curiosidade também; uma vez aberta, espalhou pela casa suas promessas,
dizeres e essência, causando mais comoção do que o pretendido. Suas folhas
marcadas por dobras foram amassadas por mãos tremulas, borradas e manchadas por
lagrimas de alegria, beijadas num súbito ataque de amor renascido e sufocadas
no peito em chamas e de respiração urgente do destinatário. Acompanhava cada
batida desritmada do coração ao qual era pressionada, e quase fora rompida com
a vibração de 200bpm. A carta foi mirada uma ultima vez, invertida enquanto a
mão que a segurava secava os olhos, recolocada no envelope e guardada embaixo
do travesseiro. Não presenciou o reencontro entre remetente e destinatário, e
tampouco suas juras de amor incontroláveis; mas durante a madrugada ficou presa
entre travesseiro, lençol e colchão quando as amantes
finalmente consumaram seus sentimentos; em dado momento fora lançada
inconscientemente ao chão, então deixou-se atingir o solo sem dar-se conta de
que o amor somente fora possível devido a sua
existência.
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Despejo (por Vera Lucia)
Postado por Tempus em terça-feira, setembro 30, 2014 com 1 comentário
Hoje achei-me na rua,
Com velhas coisas, trapos juntados
Numa existência qualquer.
Fui despejada da casa da poesia.
Achei-me na rua.
Vi de repente erguerem-se
Paredes de palavras aladas,
Protetoras do meu ser
De vestes coloridas e ricas.
De ecos maravilhosos parecidos com a infância.
Ergueram-se e me fizeram feliz e rica ali.
Escrevi e vivi.
Exaltei-me.
E novamente encontro-me no desamparo
Da rua.
Vislumbro daqui a casa fechada.
Espero o dia em que novamente
A porta se abrirá para mim.
Com velhas coisas, trapos juntados
Numa existência qualquer.
Fui despejada da casa da poesia.
Achei-me na rua.
Vi de repente erguerem-se
Paredes de palavras aladas,
Protetoras do meu ser
De vestes coloridas e ricas.
De ecos maravilhosos parecidos com a infância.
Ergueram-se e me fizeram feliz e rica ali.
Escrevi e vivi.
Exaltei-me.
E novamente encontro-me no desamparo
Da rua.
Vislumbro daqui a casa fechada.
Espero o dia em que novamente
A porta se abrirá para mim.
Verso - 14
Postado por Tempus em terça-feira, setembro 30, 2014 com 1 comentário
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Nanoconto - 08
Postado por Tempus em segunda-feira, setembro 29, 2014 com Sem comentários
Dormia a sonhar com sereias, e acordava preso em sua própria rede.
sábado, 27 de setembro de 2014
Verso - 13
Postado por Tempus em sábado, setembro 27, 2014 com Sem comentários
You are my girl
Postado por Tempus em sábado, setembro 27, 2014 com Sem comentários
O nascer do Sol só fazia aumentar
sua aflição, passara dois anos sonhando com esse momento e agora que estava por
acontecer não sabia como fazer, pensou em agir naturalmente mas estava
desesperada demais para tal coisa; afinal de contas iria
revê-la. Antes de sair do carro olhou-se
mais uma vez no espelho alisando repetidamente o comprido cabelo negro com a
palma da mão; retocou a base no rosto branco, conferiu o brinco, repintou o
lápis nos olhos e ajeitou o relógio que ela lhe dera de presente em seu 21º
aniversario. Entrou no prédio onde ela morava, atravessou o saguão, enviou-lhe
um sms para avisar que estava subindo e roboticamente chamou o elevador;
esperava em frente á porta do elevador batendo o pé direito no chão num ritmo
imaginário, enquanto os dedos da mão esquerda tamborilavam em seu quadril
seguindo o mesmo ritmo, de vez em quando ajeitava o cabelo atrás das orelhas
sem se dar conta do próprio ato. Entrou no elevador perdida em si mesma.
Sentia que sua impaciência aumentava
de forma incontrolável, tinha a impressão de que demoraria uma eternidade para
chegar ao 15º andar, suas mãos suavam, suas pernas tremiam, seu peito apertava,
os dentes roíam violentamente as unhas, o ar lhe faltava e seu coração batia
tão forte que lhe doía o peito; todas as lembranças que guardara das duas juntas
se remexiam em sua mente e a deixava desnorteada. Seguia nessa crise de
ansiedade crescente quando o elevador teve uma falha técnica; estava tão
envolta em seus sentimentos que demorou um tempo para perceber que ficara presa
exatamente no 15° andar. Fitou firmemente o painel de vidro e esperou que a porta
abrisse, mas nada aconteceu; o elevador permaneceu imóvel, estático como seu
amor por ela e estagnado como sua doce ilusão. Uma gota de suor passeou por sua
espinha vertical, tremeu no momento em que seu deu conta de sua triste
situação, - Estou presa na droga do
elevador., constatou em voz alta e com olhos verdes arregalados.
Duas horas depois respirava com
dificuldades. Estava sufocando; a caixa metálica que media L.1100 mm x P.1400
mm a mantinha encarcerada e longe de seu único amor, esperara muito para
revê-la e agora mesmo perto parecia imensamente longe. Sentiu-se idiota ao
lembrar que se separara dela quando descobriu que era uma porn star; não podia
dividi-la mesmo sabendo que não se deitava com outros por amor; abandonou-a sem
prévio aviso, e jamais pôde esquecê-la. Encostou-se na parede procurando apoio
quando o painel, o corrimão, o espelho e as portas começaram a girar juntos,
transformando-se num carrossel infernal, apoiou as mãos nos joelhos, o lugar
estava cada vez mais quente e as lembranças se debatiam nas paredes de sua
mente. Lembrava-se de ouvir mensagens de amor deixadas diariamente na caixa
postal, e pedidos de desculpas desesperados; eram sinceros e carregados de
saudade e pesar, doía-lhe ouvir a voz tão chorosa, mas era orgulhosa demais
para admitir que também a queria de volta. Dois meses depois as declarações e
as desculpas cessaram, e para seu total desespero ela sumira de vez; procurou-a
por dois anos se sucesso, e já estava decidida a desistir quando finalmente conseguiu
seu numero de celular; ficou surpresa em perceber que ela não lhe guardara
magoas, então marcou de ir em seu apartamento na manhã seguinte, e desde então
não pôde mais se concentrar, comer ou dormir. Ainda
estava apaixonada.
O suor e as lagrimas
escorriam-lhe pela face borrando a maquilagem feita com esmero, o ar foi
tornando-se cada vez mais difícil de consumir e sua visão cada vez mais turva,
ajoelhou-se levando uma mão ao peito e apoiando a outra no chão, - Falta pouco para abraça-la., dizia a si
mesma repetidamente tentando manter a calma; de repente a doce voz de Christine
soou do outro lado fazendo com que a
ansiedade a invadisse por completo; deitou virada para a porta sem poder mais sustentar
o peso do próprio corpo, o peito doía por conta da ausência de ar, engolia em
seco e chorava com a intensidade que lhe era permitida; antes de perder
completamente a consciência ouviu a porta do elevador abrir, e um segundo
depois pôde assistir Christine gritar em pânico ao vê-la caída ; com o que lhe
restava de energia construiu um cansado sorriso e satisfeita desfaleceu sem
urgência.
Quando finalmente abriu os olhos,
estava no quarto e na cama de Cristine; assustada, tentou-se levantar mas foi
impedida pelo cansaço, então virou para a esquerda e a viu sentada a seu lado; o
rosto pálido, sardento e carregado de preocupação estava próximo o suficiente
para um beijo doce e desavisado; estar assim tão perto aumentava a necessidade
que vinha sentindo dela desde as 03h00min AM, diminuía sua ansiedade
descontrolada e aplacava o louco palpitar de seu coração. Podia sentir seu
hálito de chiclete de menta, seu cheiro natural, curtir a pele macia enquanto
ela segurava sua mão e se espelhar em seus olhos castanho claro. Ela era
sublime!
Respirou fundo e contemplou-a
pacientemente como se a visse pela primeira vez, se prendeu em detalhes
objetivando gravar na retina cada pedaço de seu ser, viu-a suspirar de prazer
inegável quando rapidamente lhe contornou os lábios com dedos impacientes; e
quase enlouqueceu de satisfação quando em seguida ela lhe tracejou cada linha do
rosto com o dedo indicador. Sem poder se conter beijou-a delicadamente no rosto
e enroscou as mãos tremulas em seu cabelo ruivo, em seguida abraçou-a docemente
e quase enlouqueceu de tanta saudade; suas aflições e lembranças às
abandonaram, permitindo que novas memorias fossem construídas a partir de ali. -
Eu te amo!
A frase dita quase ao mesmo tempo pelas duas ecoou por todo o quarto, se espalhando
no ar e rebatendo nas paredes preenchendo todo o local em segundos; a magoa, o
ressentimento, a desconfiança, a frustração e a decepção foram esquecidos no
momento em que elas se beijaram; sem culpa sanaram a saudade, e entre olhares e
abraços dormiram satisfeitas.
sexta-feira, 26 de setembro de 2014
Verso - 12
Postado por Tempus em sexta-feira, setembro 26, 2014 com Sem comentários
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Contrato
Postado por Tempus em quarta-feira, setembro 24, 2014 com Sem comentários
Diante da folha em branco, a
escritora se reinventava compulsivamente para criar uma ultima estória, a cada
palavra ela se sentia mais motivada e a cada frase construída experimentava uma
sensação diferente. Já era madrugada, e
apesar de estar exausta mantinha o sorriso no rosto, tinha urgência em terminar
essa serie e por isso escrevia febrilmente. De vez em quando interrompia a
escrita e se flagrava admirando-a distraidamente,
ela era uma dessas pessoas que nada tinha de especial, falava com um jeito manhoso
mas não era carinhosa, gostava de ter propriedade em assuntos que nem ao menos
conhecia, às vezes estreava o seu mau-humor como quem estreia um vestido novo e
tinha o habito detestável de mascar chicletes e andar descalça. Enquanto a
olhava, reanalisava os motivos que a levaram a escolhê-la, mas por mais que
tentasse não podia entendê-los; só sabia que a escolhera e que por mais que ela
a irritasse estava feliz com sua escolha.
Deitada no sofá podia sentir o
olhar que lhe pesava em cima, era modelo profissional e ás vezes prostituta de
luxo tinha cinco anos, e nesse interim recebera inúmeros convites, alguns com
intenções perigosas e outros definitivamente estranhos mas nenhum como esse. A
escritora que agora a observava era sem duvida a pessoa mais intrigante e adorável que já conhecera; abordara-a em seu
ultimo desfile e pedira que se hospedasse quinze dias em sua residência por uma
determinada quantia, a principio pensou em recusar mas a curiosidade lhe pegou
desprevenida então aceitou; afinal de contas não é todo dia que convidam uma
prostituta de luxo para ser objeto de estudo.
Na manhã seguinte chegou de malas
e instalou suas manhas, mau-humor, tagarelice e manias detestáveis, tirando da
escritora a paz a qual estava tão acostumada; acordavam cedo e trabalhavam a
serie, uma escrevia enquanto a outra contava detalhes necessários e
desnecessários de sua vida pessoal. Quando se sentia entediada, a modelo desfilava
descalça por toda a casa, cantando, xeretando, ouvindo, interferindo e mascando
trident global connections deitada no sofá; às vezes num surto reclamava sobre
sua vida e chorava amargamente suas escolhas, nesses momentos a escritora se
aproximava silenciosamente e a envolvia num forte abraço. Deixavam-se ficar assim, abraçadas com olhos fechados
até que os cheiros trocassem de
corpos.
Havia momentos em que apenas
conversavam trocando confidencias,
contavam sobre família, amigos, antigos relacionamentos, comidas preferidas e
decepções amorosas; em geral eram parecidas e ao mesmo
tempo antagônicas, uma mistura que contrariando as expectativas pessoais
dera certo. Às vezes a modelo lia os contos criados sobre si e ficava surpresa
com a doçura usada para relatar sua conturbada vida, outras vezes era a
escritora quem se surpreendia com a quantidade de problemas que essa carregava sozinha.
Foram trocando experiências e
manias, e permitindo que o tempo às carregassem despercebidas, foram se
curtindo, se permitindo e se desesperando com a ideia da despedida.
No decimo quarto dia de sua estadia
a modelo redefiniu o conceito de insuportável, não quis comer ou beber, mascar
ou xeretar, e limitava-se em responder com monossílabos a qualquer tentativa de
dialogo; passara o dia todo de pijama no sofá olhando a escritora trabalhar
incansavelmente. Ao cair da noite foi convencida a comer um pedaço de pizza e a
beber um pouco de agua, e ao terminar reassumiu seu posto no sofá recusando-se
a dormir na cama. Em sua mesa a escritora tentava entende-la sem sucesso, decepcionada, investiu compulsivamente em seu ultimo
texto parando apenas para admirar distraidamente sua beleza. No fundo desejava
que ela acordasse com melhor humor, queria servir-se de seu abraço mesmo que fosse
o ultimo; mesmo não sabendo lidar com despedidas.
No dia seguinte as duas se trataram
como completas estranhas, uma angustia muda passeava entre elas feito visita
indesejada; evitaram o abraço de adeus assim como qualquer coisa que o tornasse
concreto, então encarceraram os sentimentos e encerraram sua estória com um
aperto de mão. Mascando chiclete a modelo entra em seu carro sem olhar pra
traz, não queria expor seus sentimentos para que esses não fossem escritos;
ligou o carro devagar e finalmente olhou para ela usando o espelho retrovisor
interno mas só viu a porta aberta e vazia, deu a partida e chorou como quem
perde alguém importante. Nunca fora tão difícil deixar
um cliente. Dentro da casa o tic-tac do relógio a
incomodava em demasia, lembrava o irritante barulho que ela fazia enquanto
mascava chicletes, olhou para o sofá vazio e foi invadida por uma enorme
tristeza; sentou-se na cadeira mais próxima olhando de um lado a outro
estranhando a solidão. O silencio na casa era esmagador. Aos poucos o ar foi
lhe faltando até tornar-se quase impossível respirar, seus ombros caíram
devagar e as lagrimas vieram involuntariamente rolando por seu rosto e molhando
seus pés descalços.
Apoiada nos joelhos ela se desesperava
com a verdade que lhe invadia, - Eu a amo,
disse se assustando com a própria voz; sentia falta dela de um jeito quase impossível
de explicar, queria tanto ter lhe dado o abraço de adeus e pedir que ela
ficasse, mas não a abraçara e não pedira e agora tudo que sobrara era seu
cheiro sumindo no ar e detalhes escritos a mão. Sua mente estava tão bagunçada
quanto uma pagina de rascunhos, as lembranças e os sentimentos se fundiam formando
um turbilhão dentro dela, e o desconsolo a abraçava forte tentando superar o
amor; aos poucos se deixou afundar na cadeira e ficou imóvel como um livro
abandonado. – Também te amo!, ouviu a voz que invadia
a sala e não pode conter a felicidade quando a viu parada na soleira da porta
sorrindo amavelmente, levantou-se e atravessou o cômodo atônita; sentiu-se
insegura enquanto caminhava mas enroscou-se em seu abraço disposta a consumi-la
agora que sentia o amor de que tanto escrevera; queria estreá-lo, prova-lo e
curti-lo. Queria tudo com ela!terça-feira, 23 de setembro de 2014
Nanoconto - 07
Postado por Tempus em terça-feira, setembro 23, 2014 com Sem comentários
Era desinteressante como uma rosa de cera, e ainda assim era
parte essencial da vida de alguém.
segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Dias (por Bruna Portugal)
Postado por Tempus em segunda-feira, setembro 22, 2014 com Sem comentários
Tem dias,
Que o silêncio é a melhor resposta para os nossos pensamentos.
Tem dias que queremos ficar só,
Contemplando nossas lembranças e os belos momentos.
Tem dias que nada queremos além de nos mesmos,
Pois tudo se torna vago e inviável diante do nosso espelho.
Que o silêncio é a melhor resposta para os nossos pensamentos.
Tem dias que queremos ficar só,
Contemplando nossas lembranças e os belos momentos.
Tem dias que nada queremos além de nos mesmos,
Pois tudo se torna vago e inviável diante do nosso espelho.
Verso - 11
Postado por Tempus em segunda-feira, setembro 22, 2014 com Sem comentários
sexta-feira, 19 de setembro de 2014
Verso - 10
Postado por Tempus em sexta-feira, setembro 19, 2014 com Sem comentários
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
Microconto - 03
Postado por Tempus em quinta-feira, setembro 18, 2014 com 1 comentário
Seu cheiro,
A pele morna,
Os olhos vivos,
E o coração que batia desenfreado por mim.
Boneca de Luxo
Postado por Tempus em quinta-feira, setembro 18, 2014 com Sem comentários
Assim que trancou a porta do
banheiro da suíte olhou-se no espelho, tinha o lábio inferior inchado e
dolorido, mas ainda assim insistia em passar o batom vermelho, cada toque era
um choque de dor insuportável que a fazia se encolher e errar o local da
pintura; esperava conseguir cobrir os cortes e esconder os hematomas, mas sabia
que não ficaria perfeito como o lábio superior. Na mão esquerda a garrafa de The Dalmore Trinitas bebida até a metade,
balançava perigosamente em cada soluço de choro, e a cada instante precisava fazer
mais esforço para mantê-la presa entre seus finos e compridos dedos.
Serviu-se de um largo trago da
garrafa como quem beija apaixonadamente, e recebendo nova onda de dor encarcera
o liquido na boca; quinze segundos depois respira fundo, endireita o ombro e repousa
a garrafa no balcão da pia voltando sua atenção para a maquilagem. Com mãos
tremulas, mune-se de um lápis mal apontado e tenta contornar os olhos entre um
vacilo e outro, o lápis dança da direita pra esquerda marcando rudemente seus finos
traços e aumentando o numero de arranhões em seu rosto.
No bolso do roupão da Victoria’s Secret, o IPhone 4S de Diamante toca
insistentemente mas ela não atende; com os olhos castanhos fixos em sua imagem
no espelho, engole a bebida que esquecida na boca fazia o rasgo em sua língua
arder; o liquido que agora é uma mistura nojenta de whiskey, saliva e sangue
lhe provoca forte ânsia e a obriga a se ajoelhar babando. O mundo lhe parecia um
lugar terrível. Com um impulso senta no sofá ao lado do espelho cobrindo
a cabeça com as mãos, e em seguida gargalha como louca até o riso transformar-se
em choro desesperado; quando finalmente se acalma, alcança a garrafa e volta a
beber.
Num surto, ajeita o roupão e se
analisa no espelho: lábios machucados e borrados, dentes manchados de batom
vermelho, olhos mal pintados e quase fora de orbita, mãos e braços arranhados e
o cabelo ruivo natural despenteado. Secou
desajeitadamente as lagrimas. Gargalhou mais uma vez só pra ter certeza de que
não estava de todo triste, mas seu hálito inflamável lhe provoca nova ânsia. Passado
o enjoo, levanta e se prepara para deixar o banheiro da suíte de luxo, então
escorrega na garrafa e machuca o pulso quando se apoia na porta. Ignora a dor. –
Precisa parecer
feliz Rachell, precisa parecer feliz...! Repetiu seguidamente em voz
baixa até a frase perder o sentido.
No quarto o cliente a espera
deitado e sorrindo, parecendo não se importar com os ferimentos que havia lhe
causado; assim que a vê deixar o banheiro, levanta da cama e se aproxima
devagar saboreando cada segundo de desespero que estava provocando. Sem dizer
palavra retira de sua carteira R$ 500.000,00 para pagar o programa, joga o dinheiro
para o alto e a derruba com um safanão.
Entre resmungos e soluços seus
olhos foram fechando, a dor amenizando, a cabeça ficando mais leve, a vida voltando
ao foco e a chuva de dinheiro caindo. Tranquila ela vai se perdendo dentro de
si, como se fosse um labirinto complicado de sair. O tapete no chão foi
esquentando, e se ajustando ao formato de seu corpo enquanto o dinheiro
espalhado lhe dava uma falsa sensação de sobriedade. – Volto semana que vem, disse o cliente roubando-lhe a breve paz. – Estarei
te esperando., responde ela procurando outra garrafa de whiskey.quarta-feira, 17 de setembro de 2014
Microconto - 02
Postado por Tempus em quarta-feira, setembro 17, 2014 com Sem comentários
Abraçava-a com força
E beijava-lhe a boca,
Tentando inutilmente sugar de seu corpo
A tão odiada inocência.
Verso - 09
Postado por Tempus em quarta-feira, setembro 17, 2014 com Sem comentários
terça-feira, 16 de setembro de 2014
Monólogo do ex-poeta (por Ygor Pierre Piemonte Ditão)
Postado por Tempus em terça-feira, setembro 16, 2014 com Sem comentários
Quente
tarde de Setembro nesta metrópole comedora de gentes que é São Paulo. Tornei-me
mais uma das milhões de quimeras que coexistem comigo. Sou um poema totalmente
diferente dos demais. Sou uma poesia não escrita e sem intérpretes. Sou um
fragmento do imaginário que se concretiza na plenitude das alucinações. Fui
subvertendo-me integralmente e afastando de tudo para me encontrar. Na busca de
me entorpecer embebi toda a minha alma nas blandícias seculares a fim de
compreender as buscas inauditas dos homens. Queria ser como os demais. Queria,
eu juro, ser como o bonde de pueris ignóbeis que nem amadureceram, mas já se
embalsamam em uísques baratos, cigarros falsificados e vinhos de boteco. Tentei
de maneira cega não ver a loucura sórdida desse mundo sem pé e sem cabeça: maldição da minha terra circular. Nunca
sei onde começa ou onde há de terminar. Todavia, afastei-me de todos os meus
sonhos e como se bebesse com Descartes neguei todas as minhas verdades (fé,
inclusive) para experimentar todos os mandamentos imperiais dos meus iguais
(que conseguiam ser mais diferentes que qualquer outra espécie).
Deitei-me com esse grupo ensurdecedor de ensandecidos nos fatídicos discursos
panegíricos insípidos e não consegui de maneira alguma ver algo que me
preenchesse. Assisti de perto (e participei de algumas) festas de
embrutecimento da alma e minha existência foi se diminuindo tanto que deixei de
existir. Sim, isso é possível. A inexistência ocorre quando persisto sendo como
não sou. Bebi noites atrás de noites e despojei-me de todos os meus limites
morais, éticos e alguns legais. Recordo-me de madrugadas de insônia e do
dedilhar de um piano velho. Era mais uma noite paulistana. E eu: uma poesia
repetida. Queria ser um verso de Bukowski, mas nunca fui. Após tantos séculos
preso na cadeia de buscas inócuas decidi buscar a mim mesmo. Eu era
simplesmente aquilo que neguei. Fui me identificando naquilo que ninguém quis
ser. Era sou a poesia não escrita no banco do velho jardim. Fui afastando os
espaços e aproximando as distâncias até sentir dentro de mim o toque repentino
da fênix, o galope irrefreável do velho pegasus, a mensagem secreta de Hermes,
as setas clandestinas do Cupido. É estranho. Quando nas balburdias das
aventuras juvenis deitei-me com a multidão de meus pecados a fim de execrar
toda a ojeriza que eu tinha no homem, eu me encontrei. O caminho prosseguiu
calmo e eu já não tinha mais nada a buscar. A vida me dera tudo que um homem
podia esperar. Quase tudo, na verdade. Passei dos versos repetidos à poesia
inédita na quente noite de nosso encontro. Quando te busquei nas insanas noites
de alucinação, quando de procurei nos botecos acinzentados dessa prostituta
urbana ou quando te esperei nas sarjetas entupidas de destilados... Você não me
apareceu. Contudo, quando meus nortes se direcionaram as buscas totalmente
diversas e quando eu já havia encontrado em mim mesmo razões totalmente
alienígenas de existência, você me tocou os olhos e me aveludou o espírito.
Hoje, ao olhar pela janela, vou contemplando a cidade de uma maneira diferente,
pois ela me deu você quando dela eu me enfurecia. Eis, portanto, fascinante
ironia: São Paulo foi minha primeira professora do bem cego, ou seja, do bem
praticado para aquele que te repugna. Aprendi contigo que o rebelde tempo é
prudente professor, só me concede aquilo que quero quando tenho a maturidade
que preciso. Hoje já não posso me chamar poeta. Já não tenho os dramas dos
demais, porque troquei a montanha-russa de emoções pela serenidade da prosa que
me deste com o teu olhar...
Encontro e Desencontro (A esperança)
Postado por Tempus em terça-feira, setembro 16, 2014 com Sem comentários
Corria sem saber ao certo se a
encontraria, já eram 10h30min AM e estava atrasado mas ainda assim insistia em
ter esperanças, tinham se conhecido um dia antes na livraria e ela despertara
nele algo que já não sentia havia tempos, ou que talvez
nunca tivesse sentido. O encontro dos dois foi como um desses
inexplicáveis, se olharam e cinco segundos depois já sabiam que se queriam
mesmo antes de trocar palavras. Marcaram de se ver as 10h00min AM do dia
seguinte dentro da livraria.
Agora parado na porta, a ideia de
encontra-la deixava de fazer sentido. - Porque
mesmo eu deveria entrar nessa livraria? Falava sozinho. -Talvez devesse desistir! Lembrou-se que
nem ao menos a conhecia. – E se ela não
estiver lá? A chuva o acalmava. - Vou
entrar. Chocou-se com ela ao se virar; passado o susto seus olhos verdes finalmente
a enxergou, ela era linda, que de tanto lhe calou o discurso metodicamente
ensaiado; seus cachos loiros estavam desfeitos pela chuva, a pele alva e
salpicada de nascença fazia contraste com o dia chuvoso de nuvens cinzentas e
sua boca rosada e entreaberta lhe roubava o pedido de desculpas. Ela me lembra
alguém, pensou. Por fim não pôde fazer mais que olhar, então ela sorriu
aquiescendo, ele retribuiu o sorriso e ambos se olharam silenciosamente como se
não se vissem desde muitas décadas; então ele a abraçou sem desviar o olhar, e
naquele momento, cada qual lutou internamente com seus medos, solidão, suas
magoas e desilusões. Não disseram nada um ao outro, talvez não quisessem
estragar o momento, talvez só não soubessem o que dizer.
Do outro lado da rua Rachell
assistia a tudo desolada, passara a noite em claro pensando nele e sabia que
precisava se declarar, já fazia cinco dias que o olhava suspirando e toda vez
que o via sentia que era capaz de curar-lhe a tristeza. Pela manhã, arrumou-se
e saiu dominada pela esperança de finalmente poder abraçar o seu primeiro amor;
mas quando chegou o abraço que tanto sonhou ganhar já tinha sido oferecido a
outra. Desconsolada e remoendo cada palavra não declamada, deixou-se molhar
pela chuva, e sem poder ir embora ficou olhando-os caminhar até que esses
viraram um ponto difuso em meio à multidão.
Na esquina um cachorro escapara e
avançava em um idoso, dois carros colidiram enquanto um caminhão desviava de
cinco crianças que distraidamente atravessavam a rua no farol fechado, alguém
praguejava ao perder o ônibus, mas eles iam tranquilos e abraçados. Não pararam,
não fizeram menção de voltar e nem sequer a notaram do
outro lado da rua.
Em seu apartamento e sem se
importar com nada ela foi se servindo dele devagar e deliciosamente, em cada beijo,
em cada olhar e em cada toque, como quem toma o mais refinado vinho; lá pelas
tantas da madrugada e já embriaga de beijos e caricias entregou-se sem a menor
cerimonia. Ele, rendido desde a porta da livraria, só queria perder-se no calmo
castanho de seu olhar e aos poucos foi se entregando, confiando e se enroscando
em seu calor; o amor o consumia mais do que ele permitia e juntos foram
sorrindo, sentindo e se fundindo no silencio.segunda-feira, 15 de setembro de 2014
Nanoconto - 06
Postado por Tempus em segunda-feira, setembro 15, 2014 com Sem comentários
Estava tão cansado de viver, que deitou-se para um cochilo e
entrou em coma profundo.
domingo, 14 de setembro de 2014
Verso - 08
Postado por Tempus em domingo, setembro 14, 2014 com Sem comentários
quinta-feira, 11 de setembro de 2014
Innocence
Postado por Tempus em quinta-feira, setembro 11, 2014 com Sem comentários
Rachell Rios era uma adolescente
recatada, que aos 15 anos não conhecia as maldades e malicias da vida, nascida
e criada em cidade pequena, os pais a protegiam de tudo, de todos e até das
verdades da vida. Não frequentava a escola como as outras crianças e tampouco
tinha professor particular, aprendia o que precisava com a mãe e o resto ficava
por conta dos livros de instruções. – Quanto menos contato melhor. Era o que
dizia seu amado pai.
A menina se contentava com pouco
por não saber o que era o muito, e sempre encontrava prazer nas pequenas coisas
da vida. Acariciava sua gata Lola, sonhava com o cantar dos pássaros, retribuía
se um idoso lhe sorria da janela e quando podia sair de casa se deliciava assistindo
as crianças brincarem; às vezes quase atingia o ápice da satisfação ao conversar
com alguém enquanto tomava um sorvete, e outras vezes ficava mortificada por não
poder ajudar quem precisasse. Era um ser solitário de alma pura e transparente.
Seu pai Robin Rios era empresário
e colecionador compulsivo de filmes, um ex-militar de fala grossa e
personalidade difícil, quando se decidia por algo ninguém o fazia mudar de
ideia. Ao saber que era pai de uma garotinha ficou atônito, sabia que vivia em
um mundo cheio de maldades e malicias; e assombrado pelas lembranças da guerra,
decidira por educar a filha em casa e priva-la das desilusões, mas a menina
ficara tão inocente que ele já não sabia se realmente tinha tomado à decisão
certa.
Sua mãe era o oposto, mulher
linda e elegante, postura digna de primeira dama, falava manso e deixava
qualquer homem imediatamente rendido; o que ninguém além do marido sabia, era
que essa discreta mulher fora uma promissora modelo e estrela de filmes adultos
que cinco dias após conhecê-lo abandona os sets partindo o coração de milhares
de fãs; com uma aliança no dedo e o sonho de uma vida mais digna, Scarlett Rivers
some para o mundo e deixa nascer Julianne Rios.
Algumas vezes e sem poder evitar,
ela abandona a dona de casa exemplar e cede lugar á aposentada Scarlett Rivers para a satisfação do marido e talvez até para a própria;
domada pela sombra do passado, dança jogando os cabelos enquanto seus olhos
brilham de prazer ao ver a malicia servir de mascara para seu amado que consumido
pela impaciência de cliente apaixonado se atraca a dançarina com saudade insaciável.
Certa noite, acordando de um
pesadelo a inocente Rachell ouve vozes vindo do quarto dos pais, e temendo ser uma
briga decide verificar o que estava acontecendo, ao perceber a porta
entreaberta aproxima-se sorrateiramente para não alerta-los, sabia que o pai a
protegia de tudo e não lhe diria se fosse realmente uma discussão. Esperava ver
os pais de pijamas conversando ou esbravejando, mas flagra dois amantes
envoltos no passado. A mãe com calma angustiante rebolava de joelhos em cima do
pai, seus cabelos negros soltavam no ar um cheiro inebriante enquanto balançava
e suas costas nuas se arrepiavam de prazer; o pai embaixo assistia a tudo como um telespectador idiotizado e rendido. A menina naturalmente maravilhada, se
retira em silencio para não interromper-los, o medo do pesadelo agora
insignificante, dá espaço ao que identificou como um misto de prazer e adoração.
Na manhã seguinte ainda
impressionada, comenta o ocorrido com o pai e recebe a explicação de que tudo
era parte de uma dança que a esposa o estava ensinando. Julianne chocada com as
mentiras cada vez mais ridículas, tenta falar a verdade para a filha mas Robin a
interrompe bruscamente. Mais tarde tenta convencer o marido, de que já era hora
de a menina crescer, mas esse não faz caso e engrossa a voz dizendo que para
ele Rachel será sempre sua garotinha e da à conversa por encerrada. A esposa lamenta!
Nas tardes de Sábado os Rios tinham
por habito se reunir na sala para conversar e assistir filmes, às vezes
quebrando a rotina a família convidava um ou dois casais de amigos para jantar,
e assim Rachell tinha a sorte de poder interagir com garotos de sua idade sob o
olhar atento do pai; e mesmo controlada, se deliciava com as historias e
estórias que seus amigos instantâneos contavam para impressiona-la; mas desta
vez seus pais a deixaram sozinha em casa e ela não teve opção a não ser ver
filmes com sua gata, foi até a coleção particular de Robin e decidiu-se pelo
filme “My Girlfriend”, distraída com as manhas de Lola não percebeu que o filme
não correspondia à capa, só se deu conta do fato quando na tela aparece o
titulo em francês: “Journal de la vilaine fille”. Ficou surpresa em não reconhecer
o nome, mas sabia que seu pai sempre adquiria títulos novos e que nem sempre
guardava os filmes nas capas corretas, portanto não estava surpresa; acomodou a
gata em uma das almofadas do sofá e dedicou toda a sua atenção á produção.
O filme era um desses de roteiro
fraco e conteúdo nulo, onde duas pessoas supostamente formando um casal compõe
o elenco inteiro, e depois de quarenta minutos de frenética interação corporal os
atores suados e cansados, sorriem felizes por fazerem parte de um titulo de
sucesso. “Journal de la vilaine fille” era mais uma produção independente gravada em Home Studio, mas para a
telespectadora involuntária nada disso tinha importância porque ela só tinha
olhos para a atriz principal.
A atriz. Rachell nunca a vira tão
linda, os cabelos longos era uma fina cortina de seda negra que lhe caiam pelos
ombros e desciam pelas costas brancas só para enroscarem em sua fina cintura,
os olhos verdes claros brilhavam de prazer e sua boca carnuda hora vermelho
natural, hora branco artificial roubava de seu
parceiro a merecida atenção. Os dois se enroscavam ardentemente quase esquecidos
da câmera, ela ou ele por baixo, eles de lado ou em pé, não fazia diferença;
qualquer posição encaixava-os perfeitamente. Falar ou respirar ficava cada vez
mais difícil, então limitaram o dialogo á gemidos ininteligíveis, olhares
significantes e quando possível um sofrido esfregar de língua que
caracterizavam como beijo. Era demoníaco.
A garota sem ter noção de pornografia
e que por natureza se encantava facilmente, não podia piscar de tanta
admiração, nunca vira nada tão lindo quanto aqueles movimentos, eram exóticos e
fascinantes, extravagantes e definitivamente encantadores. Instantaneamente
lembrou-se da mãe dançando gloriosamente para o pai, e um segundo depois se
levanta do sofá com o rosto iluminado, e como quem tem todo o tempo do
universo, retira caprichosamente suas roupas e põe-se a dançar com inocência
quase obscena no olhar; momentos depois Robin e Julianne entram na sala e
deparam-se com a filha nua e ardendo de alegria, reconhecendo-se na televisão e
sem saber o que dizer, ela atravessa a sala e cobre a filha com seu casaco, mas
decidida, a menina retira o manto dos ombros e para desespero do pai aponta para
a tela e anuncia sorrindo: - Quero ser dançarina!
quarta-feira, 10 de setembro de 2014
Microconto - 02
Postado por Tempus em quarta-feira, setembro 10, 2014 com 1 comentário
Cansado,
Observava sem interesse a garrafa cheia;
E com gestos robóticos embriagava-se,
Estonteando a garrafa
Com seus beijos de solidão.
Observava sem interesse a garrafa cheia;
E com gestos robóticos embriagava-se,
Estonteando a garrafa
Com seus beijos de solidão.
segunda-feira, 8 de setembro de 2014
Nanoconto - 05
Postado por Tempus em segunda-feira, setembro 08, 2014 com 1 comentário
Fingindo não ser pecado, comeu sem pudor da arvore da vida.
Verso - 07 (Abraço)
Postado por Tempus em segunda-feira, setembro 08, 2014 com 1 comentário
domingo, 7 de setembro de 2014
A espera
Postado por Tempus em domingo, setembro 07, 2014 com Sem comentários
Julianna era um misto de cansaço
e tristeza, o pouco que conseguia dormir era para sonhar com o marido que
partira para a guerra sem saber que seria pai, sentia imensamente sua falta e
não passava um dia sem pensar nele. A casa vazia a deixava desesperada mas não
queria deixa-la por medo de que ele não a encontrasse quando voltasse, então
ficou a esperar na janela todos os dias sem se cansar. Quando soube que estava
gravida ganhou novo animo, sonhava com o momento em que contaria a novidade
para o amado e esse radiante de alegria a envolveria em um abraço apertado declamando
seu amor; e assim sonhando estava quando chegou a noticia de que ele
desaparecera em combate. Alguns meses depois da noticia, dera entrada no
hospital com o coração partido e a bolsa amniótica rompida, o liquido que
escorria por suas pernas lhe tirava do posto de vigia e lhe roubava a esperança.
Enquanto amamentava olhava o
neném com ternura e tentava decorar seus trejeitos, procurava na filha algum
vestígio de si mesma, mas a menina nascera com pele pálida, cabelo loiro avermelhado,
rosto sardento e olhos castanhos claros; nada tinha dela, nem ao menos o sorriso;
tentou lamentar o fato mas desistiu, não se sentia preparada para lamentar qualquer
coisa referente a essa criança, nem mesmo a total semelhança com o pai. O
cansaço a dominava cada vez mais e tornava quase impossível organizar seus
pensamentos, desejou ardentemente que o marido estivesse ali para segurar-lhe a
mão, mas já não tinha esperanças de que ele ainda estivesse vivo; quis chorar e
não conseguiu, fizera isso tantas vezes nos últimos nove meses que não lhe
restava uma lagrima sequer, nem de alegria e nem de lamento. Estava vazia!
Fazia um esforço sobre-humano
para manter os olhos abertos, então presenteou a filha com um beijo na testa e de
coração apertado permitiu que a enfermeira a levasse. Sozinha no quarto encolheu-se
preguiçosamente no leito tomada pelo sono, e olhando instintivamente para a
porta viu seu marido parado com olhar apaixonado e flores nas mãos; sem saber
se era desejo ou realidade adormeceu sorrindo... Amava
rosas brancas!sábado, 6 de setembro de 2014
Verso - 06
Postado por Tempus em sábado, setembro 06, 2014 com Sem comentários
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
Microconto - 01
Postado por Tempus em sexta-feira, setembro 05, 2014 com 3 comentários
Dava passos cegos e esperançosos na escuridão;
Ansiando encontrar
A lendária luz no fim do túnel.
Através do olhar (Despercebidas)
Postado por Tempus em sexta-feira, setembro 05, 2014 com Sem comentários
A lente roubava a pureza da cena,
não que fizesse intencional, mas ainda assim era fria e desumana ao registrar
aquele momento. Os moveis ao redor, a ultima roupa da moda, o cabelo bem
penteado e a maquiagem impecável, escondiam de forma gloriosa a tristeza que as
modelos traziam em suas almas. De olhos fechados, cada qual tentava em vão
superar a magoa e esquecer o motivo que as mantiveram separadas por quase um
ano inteiro; as mãos suavam, os corpos tremiam, os corações as traiam e a saudade se dilatava incontrolavelmente. Mas a câmera
não pôde ser mais e nem menos humana, e lhes exigia profissionalismo. Abraçadas,
ruiva e morena tentavam se transfundir, se
misturar e difundir; o amor implícito limpava os pensamentos, adoçava as bocas
e lhes transbordava a alma. Nada mais importava. Desapercebida, a lente deixou
que a hora e a volúpia passassem despercebidas, e o coração se acalmou, o
abraço se desfez e a magoa interrompeu indecorosamente o único olhar sincero. No
fim, restou á elas um beijo gelado com a duração de um piscar, e tudo terminou
em um click; a lente se fecha caprichosamente lhes roubando o tempo, os
sentimentos, a intimidade e a dignidade de um coração partido. A foto revelada
no dia seguinte, dissolvia a perfeição do momento e inseria no amargor uma
infinidade de significados.
quinta-feira, 4 de setembro de 2014
Nanoconto - 04
Postado por Tempus em quinta-feira, setembro 04, 2014 com Sem comentários
Recebia tantas flores de seus admiradores, que mudou
convenientemente sua dieta para rosas vermelhas.
quarta-feira, 3 de setembro de 2014
Os dizeres
Postado por Tempus em quarta-feira, setembro 03, 2014 com 2 comentários
Voltava do enterro com o coração
partido, a aliança ainda no dedo anelar da mão esquerda parecia ter 200 quilos
agora, mas ainda assim não queria tira-la, tentava manter-se forte por isso não
derramara nenhuma lagrima desde que vira o corpo no chão. Andava sem rumo
dentro do apartamento indo de um cômodo a outro sem objetivos e evitando a todo
custo o quarto do casal; o terno preto que usara no enterro o estava sufocando,
e sem opções enfrentou por fim o aposento. Tudo estava igual. A cama arrumada,
as roupas dobradas, os casacos pendurados e os chinelos alinhados lado a lado;
abalado sentou-se na cama do lado onde ela dormia, e quando se inclinou para
cheirar o travesseiro viu a carta em cima do criado mudo, hesitou um momento antes
de tocar no que poderia ser seus últimos dizeres; ainda não se sentia preparado
para aceitar a morte dela. Fechou os olhos respirando fundo e pegou a carta prendendo
o ar involuntariamente. Olhou em volta e a lembrança dos últimos momentos que
estiveram juntos no apartamento o tomou de assalto. Era insuportável!
-Mas é meu aniversario!, a exclamação soou quase inaudível. Fingindo
não ouvir ele pegou as malas, beijou-a roboticamente nos lábios e saiu do
apartamento em silencio e determinado a viajar. Do elevador pôde vê-la
encostada no batente da porta com uma carta na mão, seus
olhos castanhos e tristes o encarava, a boca apertada segurando um
ultimo protesto e a mão parada no ar como se tentasse alcança-lo. Tentou
dizer-lhe algo mas desistiu, abaixou a mão e limitou-se a deixar as lagrimas se
manifestar por ela, então a porta do elevador se fechou bruscamente,
interrompendo o momento intimo e desagradável.
Vinte e cinco minutos depois ele ainda
estava sentado na cama, imóvel e perdido em amargas lembranças, segurava a
carta com a mão esquerda como quem tenta segurar o ultimo fio de vida, enquanto
a mão direita tentava em vão socorrer as lagrimas que despudoradamente lhe
descia a face; e assim deixou-se ficar por mais um tempo até esgotar toda a sua
angustia. Quando finalmente se acalmou desdobrou o papel com cautela, esperava
ler algo que justificasse aquele aparente suicídio, talvez um pedido de
desculpas ou uma reclamação... Quem sabe uma declaração! Leu e deixou-se magoar
aos poucos, abaixou a cabeça, encurvou as costas e soltou os ombros; o peso do
corpo de repente tornara-se insustentável, então largou-se de vez na cama
desejando não mais poder acordar. Inocentemente, a carta planou da mão ao chão
despercebida e caiu aberta como se não mais pudesse guardar seus segredos; em
letras perfeitamente desenhadas ela revelava os dizeres que lhe arrebatou a
alma: “Let this
reach you and keep you warm; my love hasn’t budged. Come home! Karli.”.
(Deixe alcançar e manter você
aquecido; meu amor não se mexeu. Volta pra casa!)
Prosa - 01 (A outra metade de mim)
Postado por Tempus em quarta-feira, setembro 03, 2014 com Sem comentários
Fazia-Me falta isso.
Essa expectativa insana de te conhecer,
Algo simples como um amor
platônico,
Que não tem obrigação alguma de
acontecer.
Faltava-Me esse acréscimo
Com o poder de modificar Minha
rotina
E de arrebatar Minha pureza,
Esse algo que de tão cuidadosamente
escondido
Roubava-Me de quem em segredo amo
tanto ser.
Intimidava-Me,
Amedrontava-Me,
Confundia-Me.
Faltava–Me esse alguém
Que de tanto Eu desejar
Fazia parte de Mim como uma
personalidade oculta.
Um pseudônimo que há tempos argumentava
em vão sua vontade de sair,
De se sobressair,
De ser individual e vivo.
Incorporar esse outro é como usar um habito,
Uma segunda pele,
Um instinto de sobrevivência,
É assassinar Doctor Jekyll e
assumir Mister Hyde.
Faz-Me redundante.
Um maldito pleonasmo.
Torna-Me um subjuntivo.
Esses, que odeio tanto falar e
ouvir.
Insere-Me em um contexto
deliciosamente estorico,
E Me faz ser ainda mais complexo.
Mas ao mesmo tempo é tão efêmero,
Que chega a ser doido, torturante
e poético.terça-feira, 2 de setembro de 2014
Nanoconto - 03
Postado por Tempus em terça-feira, setembro 02, 2014 com Sem comentários
Sua beleza inefável roubava de Narciso a dignidade da morte.
Verso - 05
Postado por Tempus em terça-feira, setembro 02, 2014 com Sem comentários
segunda-feira, 1 de setembro de 2014
Cinco dias sem ela (Jogos de Solidão)
Postado por Tempus em segunda-feira, setembro 01, 2014 com Sem comentários
Primeiro Dia: A morte.
Tudo parecia confuso, meu tímpano
ainda vibrava com a força da onda sonora que serviu de mensageira fúnebre,
sempre pensei que tal noticia se desse de forma especial, mas nesse caso foi
feio e grosseiro; tão rude quanto o próprio acontecimento. Quando cheguei o corpo ainda estava no chão, seu
comprido cabelo loiro avermelhado indevidamente tingido de vermelho-sangue, a pele alva e
salpicada de nascença fazia contraste com o piso preto, seus olhos castanhos miravam
o vazio com desejo ardente enquanto a boca entreaberta convidava para o mais
intimo segredo. Num impulso coloquei minha orelha próxima a seus lábios; esperava
ouvir um ultimo sussurro, mas esse já me tinha sido roubado, segurei suas mãos
entre as minhas numa ultima tentativa de união, fechei seus olhos, também fechei
os meus e finalmente lhe dediquei um minuto incomodo de silencio quando a beijei.
Segundo Dia: A fuga.
Corria as cegas pela calçada
vazia, o vento forte levava docemente minhas lagrimas, deixando somente a magoa.
Eu fugia sem rumo levando comigo só a obstinação. Às vezes olhava para trás, às
vezes olhava para os lados, queria garantir que ninguém me seguiria; cada olhar
uma paranoia e cada passo uma nova expectativa que me conduzia ao nada, mesmo
assim me sentia confiante, deixava para traz o desespero, a tristeza, a agonia,
a solidão e qualquer outro sentimento que me amarrasse ao passado. Fugia de mim
mesmo e ainda assim me sentia livre... Finalmente livre! Livre! Repetia para me
convencer enquanto corria cada vez mais rápido. De repente tropecei numa pedra
e cai violentamente no chão, o ar me faltou por alguns segundos e meu nariz
doía (não mais que meu ego), o desespero me oprimia. Virei de costas para o
chão tentando decifrar o Céu, as nuvens assumiam formas estranhas aquele dia,
um gato, um navio e um homem deitado olhando para o alto. A calçada estava vazia,
sem plateia para ajudar ou vaiar, meu espetáculo tinha sido um fiasco e minha
camisa estava molhada. Sangue? Não... Era só a agua da rua; escorria da
calçada para a sarjeta e desta para o bueiro
levando minha
felicidade,
minha esperança
e minha confiança.
Voltei pra casa; ainda tinha minha solidão.
Terceiro Dia: A
rotina.
Viver tornara-se um martírio; eu
não podia ou não mais queria acompanhar aquela dinâmica enjoativa, pessoasconversasandançasrotinaconvivencia
pausa pessoasconversasandançasrotinaconvivencia.
O mundo era um Carrossel infernal, sem musica, sem risos, sem luzes, sem cor e
eu com ganas de desligar. Tentava sonhar desesperadamente enquanto dormia e também
tentava quando acordava, mas sonhar não era mais fácil e continuar sem ela também
não. Procurava sua delicadeza nas flores, nos perfumes sua essência e no
arco-íris suas cores, mas nada no mundo se equiparava a ela. Sumira por
completo! Era como quando era casada comigo; não existia. Em desespero invadi o
local de sua morte; seu cheiro ainda pairava no ar e o contorno de seu corpo jazia
mal feito no chão, eram as únicas coisas que me restava. Deitei ao lado do
desenho com a esperança de que ela aparecesse de repente e me abraçasse, mas apenas
a vida me abraçara, cada vez mais forte, cada vez mais intensa e cada segundo
mais sufocante. Fui embora com a urgência de um amante flagrado!
Quarto dia: A
livraria.
Ainda me sentia desanimado mais
precisava sair de casa, fazer algo além de contemplar o teto branco, nos
últimos três dias essa tinha se tornado a minha atividade mais frequente, ao
ponto de branco se tornar minha cor preferida; talvez porque não inspire nada, ou
talvez por ter me acostumado a olhar. Meus olhos arderam com a saudação da Luz
e meus ouvidos reagiram da mesma forma com o som da vida, inspirei fundo e me
nauseou o cheiro do mundo, carros, cigarros, prostitutas, incêndio... Quem
podia sentir falta disso? Eu podia! Entrei em uma livraria, precisava de cinco
ou seis títulos que me distraíssem, ou que servissem de desculpas para me
encarcerar novamente; as opções eram infinitas. Passeava entre as palavras e me
atracava hora com frases, hora com citações; às vezes ouvia os versos sussurrados
pelos amantes dos livros e depois tentava eu mesmo sussurra-los, parecia minha
primeira vez na cidade grande. Tentava me perder entre as estantes, mas só me
perdia em mim, por isso quando a vi já era tarde demais, embora ela tenha me
visto em tempo. Olhamo-nos rapidamente e depois nos demoramos, mas ela já
estava de saída e a atendente começara a me ajudar. Eu queria muito lhe sorrir,
mas não soube como fazer, e ela ficou na porta, parada, me olhando insistente e
esperando por algo que eu não soube lhe dar. Provavelmente queria aquele
sorriso mais do que eu. Deu de ombros e saiu. A atendente acompanhava a cena
enquanto empacotava os livros, em seguida me deu o troco, a nota e uma
informação: - Seu nome é Sabrina e ela voltará
amanha as 10h00min AM. Fingi não ouvir, estava
cansado demais pra ter esperanças.
Quinto dia: A
Necessidade
A necessidade dela me invadiu
essa manha antes mesmo dos primeiros raios de Sol, não se preocupou com
educação e sem cerimonias foi me adentrando; do topo da cabeça á planta dos pés
se acomodou sem explicar os motivos de fazer-se presente; implantou ideias,
destilou sugestões, culminou lembranças e semeou a saudade. Instalou-se
sorrateiramente e logo tornou-se emergente. Hora se fez real, hora feito
ilusão; a necessidade transformava-se para meu prazer, se satisfazendo e me
inibindo. Amante dos jogos de solidão ela revelou-se; intensa e única esfregava
em mim seus longos cabelos ruivos, olhos castanhos vivos, sardas espalhadas por
todo o corpo pálido e sorriso encantadoramente vermelho. Agarrei-me a essa
solida ilusão com ganas, e rendido fui me deixando seduzir; suas garras passeando
por meu corpo e me envolvendo caprichosamente, acalmando minha mente confusa, selando
meus lábios vermelhos, acariciando meu liso cabelo negro e cegando meus olhos
verdes. Desesperado de amor vou me deixando morrer sem resistência, devagar,
deliciosa e delicadamente vou me unindo a ela quebrando a tristeza; findando
minha rotina de lamurias como um verso vazio de poeta fingidor, que deita pra
um descanso e falece afogado em seu miserável amor.
Verso - 04
Postado por Tempus em segunda-feira, setembro 01, 2014 com Sem comentários
Verso - 03
Postado por Tempus em segunda-feira, setembro 01, 2014 com 1 comentário
sábado, 30 de agosto de 2014
Verso - 02
Postado por Tempus em sábado, agosto 30, 2014 com Sem comentários
sexta-feira, 29 de agosto de 2014
Preludio
Postado por Tempus em sexta-feira, agosto 29, 2014 com Sem comentários
Acendia o 15º cigarro e o quarto
fechado estava repleto de fumaça, já nem era mais possível enxergar as fotos da
infância nas paredes, tentava ver desenhos nas nuvens de fumaça e como não
conseguia fingia que cada uma era uma nuvem de pensamentos. Nenhuma luz entrava
no aposento. Respirar dentro do nevoeiro ficava cada vez mais difícil, mas não
desistiria tão fácil da asfixia. Sorriu envergonhada, sabia que jamais daria
certo morrer assim.
De costas para o chão remoía sua
frustração. - Sou
invisível! Disse em voz alta para sentir-se menos sozinha. Cinco
anos depois de ter casado, ainda não se acostumara com o fato de ser sempre largada
no dia de seu aniversario e em outras datas importantes, abrira mão de tudo
pelo marido inclusive de si mesma; era cansativo. Ignorando o celular que
tocava dentro da bolsa, acendeu outro cigarro e engatilhou o revolver.
No andar de baixo sua mãe preocupada
embrulhava o presente de aniversario, amava a filha e por isso odiava vê-la tão
triste, queria desesperadamente subir e nina-la mas não tinha coragem de bater
na porta. Aposto que esta deitada no chão (pensava), sempre faz isso quando se chateia,
objetos e superfícies geladas a acalmava; o toque do celular interrompera seus
pensamentos, pela musica já sabia que era o traste do genro. Falou rápido e sem
se preocupar com educação ou bom senso, queria mesmo era tirar a filha de
dentro do quarto, estava aflita sem saber a razão, subiu pulando alguns degraus.
Demorou-se alguns segundos antes de bater, ainda tinha duvidas quanto a
interromper o confinamento, respirou fundo e bateu na porta com força exagerada;
em resposta ouviu um tiro. - Ahhhh... Largara o celular com o susto.
Estava em pânico.
Do outro lado da cidade o marido de Karli desistira
de ir viajar, era aniversario de sua mulher e pela primeira vez em cinco anos
queria passar a data com ela, não a amava mais, a maioria das vezes nem a
notava, mas já tinha percebido que ela estava mais desanimada e ansiosa do que
o normal. Não era fácil ser casada com ele.
Dentro do taxi, segurava as rosas
com cuidado para não derrubar, ansiava ver seu sorriso. Podia até imaginar a
cena: ela vindo em sua direção e o sufocando com um abraço saudoso. Rosas
brancas. Sua preferida pensou, nunca conhecera quem gostasse mais desse tipo do
que a esposa. A Rosa de Cera! Uma vez ela confessara que era parecida com a
flor, quase invisíveis ela dizia mais
para si do que para ele, ninguém se interessa. Sentiu vergonha de si; não
gostou de ser ninguém.
A esposa não respondia as suas chamadas,
então discou o numero da sogra que atendeu com humor indecifrável, dispensou as
boas maneiras dizendo que passaria a ligação para a filha. Olhou para as rosas
com afeto enquanto aguardava a transferência de mau humor, pelo menos esperava
que a esposa estivesse de mau humor; mesmo assim queria falar com ela. Ouviu a
batida na porta e sorriu satisfeito, depois um tiro e um grito somados ao
barulho de um celular caindo; uma curva mal feita do taxista passou
despercebida, desta vez não conseguiu salvar as rosas da queda involuntária;
ficou estático olhando as flores espalhadas no chão.
Karli apontava o revolver para a própria
testa, sua respiração estava descontrolada, não era fácil tirar a própria vida;
mas já estava decidida. Pensando bem, poderia fazer isso em sua própria casa, a
mãe não merecia ver tal cena e muito menos o pai, já o marido era outra
situação, quem sabe assim ele finalmente a enxergaria. Tudo bem! Ia adiar a
performance, demorou-se um pouco mais sentindo o metal gelado na testa, gostava
de objetos e superfícies geladas porque a acalmava, gostava de rosas brancas e
também de surpresas; sorria perdida em suas pequenas satisfações quando uma
forte batida na porta a assustou, apertou o gatilho involuntariamente e em um
segundo nada mais a entristecia.
Parada na porta do quarto a mãe
reunia forças para entrar, talvez a filha tivesse errado e talvez não fosse um
tiro; mas ao abrir a porta constatou que era um tiro e infelizmente a filha
acertara. Não teve coragem de aproximar-se do corpo, encostou-se à porta e
deixou-se cair pesadamente no chão; o sangue que escorria em sua direção a
mantinha hipnotizada. Não percebeu quando o genro desceu do taxi, entrou na
casa em total desespero, e invadiu o quarto tão pálido quanto uma rosa branca.
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